As doenças pulmonares são uma das principais causas de morte e morbilidade em todo o Mundo. Os seus custos sociais e económicos são enormes, representando um dos problemas de saúde pública mais relevantes da atualidade. De entre estas, o cancro do pulmão assume-se como o cancro mais mortal e um dos mais frequentes na maior parte dos países. Apesar de a sua incidência parecer estar a baixar, principalmente na população masculina, o problema está longe de estar resolvido.
A alimentação é uma das variáveis comportamentais com mais impacto no risco de várias doenças, nas quais se incluem as doenças respiratórias e, em particular, o cancro do pulmão. Apesar de não ser fácil estudar o papel dos nutrientes de forma isolada, pois os alimentos geralmente apresentam uma composição complexa, e a alimentação tende a ser variada, há um nutriente que normalmente se destaca quando se fala no seu papel ao nível da prevenção das doenças respiratórias: a vitamina C. Uma vez que esta vitamina se encontra predominantemente nas frutas e legumes, a sua ingestão acaba por estar relacionada com o consumo destas classes de alimentos tão importantes, e cujo consumo está sem dúvida associado a uma diminuição da mortalidade. Ou seja, na maior parte das vezes a quantificação dos níveis de vitamina C acaba por ser uma forma indireta de avaliar o padrão alimentar da pessoa.
A prevenção de muitas doenças passa pela adoção de um estilo de vida mais saudável, no qual a alimentação tem um papel fundamental.
Recentemente foi publicado um artigo na revista científica European Journal of Clinical Nutrition, no qual se procurou perceber se existia uma relação entre o consumo de vitamina C e a incidência de doenças pulmonares. Os resultados obtidos revelaram que níveis adequados desta vitamina estão associados a uma diminuição do risco de doenças respiratórias, em especial cancro do pulmão e, consequentemente, do risco de mortalidade relacionada com doenças pulmonares. Estes efeitos foram mais relevantes em não-fumadores.
Este estudo apresenta resultados muito interessantes, que revelam algo que apesar de não ser surpreendente, ainda não é tão valorizado como deveria ser: uma parte significativa de muitas doenças é comportamental, sendo que as nossas escolhas alimentares são porventura o fator que mais contribui para as mesmas. Infelizmente vivemos um contexto atual no qual se discute muito a capacidade de resposta dos sistemas nacionais de saúde, e por isso penso que é boa altura refletir sobre o impacto que os nossos comportamentos e hábitos têm na nossa saúde e, consequentemente, na saúde da população. O estudo que eu destaquei neste post vem demonstrar isso mesmo, que é possível diminuir significativamente o risco de várias doenças “apenas” recorrendo a uma alimentação mais saudável. E se todos transformarmos estes “apenas” em realidade, a nossa saúde e a saúde de todos vai, seguramente, melhorar!
Um consumo de vitamina C contribui para uma diminuição do risco de doenças pulmonares graves, incluindo cancro do pulmão.
Referência do artigo: European Journal of Clinical Nutrition, volume 73, pages 1492–1500 (2019)