Atualmente o maior desafio em contexto de saúde pública são as doenças crónicas não transmissíveis, nomeadamente as doenças cardiovasculares e a diabetes tipo 2 (mais informações sobre a diabetes neste post). Apesar de afetarem muitos milhões de pessoas, em particular nos países ditos mais desenvolvidos, são doenças que em grande parte poderiam ser evitadas, uma vez que dependem diretamente do estilo de vida de quem sofre das mesmas. São, por isso, doenças nas quais a alimentação, para o bem ou para o mal, tem um papel muito importante.
Todos sabemos que o sedentarismo e/ou o consumo excessivo de sal, gordura saturada e açúcar podem aumentar significativamente o risco de aparecimento de doenças crónicas. Mas além destas (importantes!) recomendações, há outros aspetos que merecem igualmente a nossa atenção. Uma das classes de alimentos que tem estado envolvida em grandes discussões são os laticínios, ainda que a evidência científica aponte maioritariamente para um papel protetor dos mesmos no contexto das doenças cardiovasculares e diabetes. No entanto, falar em laticínios é demasiado vago, pois há muitos alimentos diferentes que compões este conjunto.
As doenças cardiovasculares e a diabetes são duas doenças cujo aparecimento e desenvolvimento podem estar relacionados com a alimentação.
Recentemente foi publicado um artigo na revista científica The Journal of Nutrition no qual se procurou perceber se o consumo de laticínios fermentados (iogurte + queijo) e não fermentados afeta o risco de doenças cardiovasculares e diabetes em mulheres adultas. Foi observada uma diminuição significativa do risco, mas apenas associada ao consumo dos primeiros (laticínios fermentados).
Os resultados deste trabalho parecem-me bastante interessantes e importantes a vários níveis. Em primeiro lugar, revelam que a alimentação tem um impacto importante em doenças tão graves como a diabetes ou as doenças cardiovasculares. Além disso, também me parece importante destacar que alimentos parecidos (leite e iogurtes) podem não ter necessariamente o mesmo efeito na nossa saúde. Apesar disso, é muito importante interpretar este tipo de estudos com cautela, pois apesar de se ter observado benefícios apenas no consumo de laticínios fermentados, isso não significa que estes são uma melhor opção do que os não fermentados, pois há muitas outras possíveis consequências que não foram abordadas neste trabalho. De qualquer forma, o facto de serem alimentos fermentados permite levantar a hipótese de que pelo menos parte dos resultados observados possam estar relacionados com o efeito probiótico dos mesmos (mais informações sobre probióticos neste post) e, consequentemente, com potenciais benefícios ao nível da microbiota intestinal (mais informações sobre a microbiota intestinal neste post). Por último também é importante referir que atualmente há dezenas de iogurtes e de queijos diferentes no mercado, e nem todos são igualmente interessantes do ponto de vista nutricional. Ler os rótulos (mais informações sobre a leitura dos rótulos neste post) e saber tomar as melhores opções é fundamental para que se consiga tirar partido de tudo o que os laticínios nos podem dar!
O consumo regular de laticínios fermentados (queijo e iogurte) parece diminuir o risco de algumas doenças crónicas, nomeadamente diabetes e doenças cardiovasculares.
Referência do artigo: J Nutr. 2019 149(10):1797-1804. doi: 10.1093/jn/nxz128.