Grávidas, crianças e adolescentes

O tipo de proteína ingerida (e não apenas a quantidade!) pode ter um impacto significativo no crescimento das crianças

Ter uma alimentação adequada é algo que todos, sem exceção, devem procurar fazer. No caso das crianças esta questão assume um papel ainda mais relevante, uma vez que a alimentação pode ter impacto não só ao nível da sua saúde um dia mais tarde, mas também do próprio desenvolvimento e crescimento. Por exemplo, sabe-se que o leite materno parece promover um melhor desenvolvimento e uma melhor composição corporal do que o leite artificial (“leite de lata”). Atualmente acredita-se que um fator que pode contribuir para que isso aconteça é a quantidade de proteína, pois o leite materno tem menos proteína do que o leite artificial. Portanto, mais não tem que ser necessariamente melhor! De uma maneira geral, o consumo de proteína por parte das crianças é muitas vezes exagerado, não sendo por isso de descartar a possibilidade de esse fator ser um dos responsáveis pela existência de níveis elevados de excesso de peso/obesidade durante a infância (mais informações sobre esse assunto aqui).
Ou seja, deve estar-se atento à quantidade de proteína ingerida, de forma a contribuir para que o risco de obesidade no futuro possa diminuir. No entanto, olhar apenas para a quantidade de proteína pode ser redutor, pois seguramente que existirão outras variáveis em jogo… Uma dessas variáveis pode ser o tipo de proteína ingerida. Após os 5-6 meses de idade (idealmente 6 meses!), o bebé começa a estar sujeito à diversificação alimentar, na qual contacta com diferentes tipos de alimentos, que vão complementar o consumo de leite (convém não esquecer que com o crescimento, o corpo humano começa a ser muito mais exigente do ponto de vista nutricional!). Em relação à proteína, durante a diversificação alimentar começam a surgir diferentes fontes da mesma, nomeadamente carne/peixe e laticínios. Mas será que o impacto no crescimento e peso das crianças é o mesmo?
Recentemente foi publicado um estudo na revista American Journal of Clinical Nutrition que procurou perceber se o impacto do consumo de carne ou laticínios, como complemento ao leite artificial tinha algum efeito significativo no crescimento de bebés. Basicamente foi fornecido aos bebés o mesmo leite artificial, sendo que a única diferença na alimentação foi a origem da proteína complementar (a quantidade foi igual). Foi observado que quando a fonte complementar de proteína foi a carne, o crescimento dos bebés foi mais acentuado do que no caso dos laticínios.
Este estudo é, na minha opinião, muito interessante, pois revela que a nutrição não é uma ciência exata, e que não pode ser reduzida apenas a alguns cálculos matemáticos. Claro que a contagem dos macronutrientes e micronutrientes é muito importante, mas há muito mais para além disso. O facto de o consumo de carne promover um maior crescimento do que o consumo de leite revela isso mesmo! E repare que neste caso estamos a falar de duas excelentes fontes de proteína, de elevado valor biológico. Obviamente que a carne ou os laticínios não contêm apenas proteína, e por isso os resultados obtidos não têm que estar necessariamente relacionados com a proteína. De facto, acredito que as observações efetuadas estejam relacionadas com outros componentes, o que por si só revela que a carne ou os laticínios não devem ser vistos apenas como fonte de proteína. Este é apenas mais um exemplo do quanto se sabe (ainda) tão pouco sobre o verdadeiro impacto que as escolhas alimentares têm em cada um. Há ainda muito a descobrir e a compreender, e isso é que torna o mundo da nutrição tão interessante…

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