Quando se fala em gordura corporal, o pensamento tende a ir normalmente para uma barriga ou uma anca com gordura acumulada. E, na realidade, esses são locais onde tipicamente a gordura tem tendência a depositar-se, com consequências a nível estético, na auto-estima e na saúde da pessoa. No entanto, a acumulação de gordura corporal pode ter outro tipo de consequências (mais informações sobre a gordura corporal neste post), sendo que muitas vezes a gordura responsável é a gordura “invisível”, que se acumula à volta e no interior das vísceras, nomeadamente ao nível do fígado. A gordura visceral é potencialmente muito perigosa, pois aumenta o risco de várias doenças crónicas, em particular doenças cardiovasculares e diabetes. No entanto, infelizmente ainda não se sabe muito sobre de que forma é que a mesma se deposita, e de que forma é que se pode eliminá-la. Atualmente acredita-se que oscilações significativas de peso (o chamado “peso ioiô”, ou seja, pessoas que até podem ter um peso médio estável, mas vão oscilando entre perdas e ganhos cíclicos de alguns kg) podem ser um dos principais fatores responsáveis pela acumulação gradual de gordura nas vísceras, e, mais concretamente no fígado. Também a quantidade e a qualidade da alimentação parecem ser alimentos muito importantes.
Há cada vez mais evidências que sugerem que a diminuição do consumo de gordura, e da sua substituição por gordura insaturada (maioritariamente de origem vegetal) podem ser fatores importantes para promover uma diminuição dos níveis de gordura visceral. Por outro lado, o consumo de alimentos ricos em calorias e em açúcares simples parece ter o efeito contrário. Ou seja, não há dúvidas que o que se come pode potenciar o aparecimento/desaparecimento de gordura visceral, mas a forma exata como tal se consegue está longe de estar bem caracterizada.
A acumulação de gordura visceral aumenta o risco de várias doenças crónicas, e está diretamente relacionada não apenas com quanto se come, mas também com o que se come.
Recentemente foi publicado um artigo na revista The Journal of Nutrition no qual os investigadores procuraram estabelecer associações entre a ingestão de grupos de alimentos e a deposição de gordura visceral em adultos do sexo masculino e feminino. De uma maneira geral, os participantes com um padrão alimentar rico em frutas, hortícolas e gorduras de origem vegetal apresentaram menor quantidade de gordura visceral (em particular no fígado) e os que consumiram regularmente snacks doces apresentaram um resultado contrário.
Confesso que não fiquei surpreendido com os resultados deste estudo, mas decidi apresentá-los aqui no blog por dois motivos. Em primeiro lugar, para destacar que há muitas consequências “invisíveis” associadas às nossas opções alimentares, e não é pelo simples facto de serem “invisíveis” que não as devemos valorizar. A acumulação de gordura visceral é um problema grave, que pode ter consequências muito significativas, pois promove o aparecimento de várias doenças crónicas! Em segundo lugar, porque revela que independentemente da quantidade de calorias consumidas, há também outros fatores que condicionam os efeitos globais que um determinado padrão alimentar pode ter. Ou seja, não basta pensar no número total de calorias consumido (que por si só é algo muito importante…), é preciso ir mais longe, valorizar todas as escolhas alimentares que são feitas, no sentido de criar um padrão alimentar que, de facto, pode promover a saúde. Conforme digo muitas vezes, se somos o que comemos, escolha ser saudável!
O consumo de snacks doces parece estar associado ao aparecimento de gordura visceral, enquanto que o consumo de fruta, hortícolas e gorduras vegetais parece ter o efeito oposto.
2 Comments
Fernanda Monteiro
Isto hoje veio directo a mim. Fiz uma ecografia digestiva, figado vesícula e pâncreas e deu resultado que tenho o figado gordo e um quisto no figado, ainda não consegui falar com minha médica. Dr, eu até tenho cuidado com alimentação, nao como fritos, bebo vinho maduro tinto à refeição só de vez enquando. Ando perdida sem saber que fazer, e sinto me só, pois se nao se tem possibilidades de ser vista no privado, espera se tempos para falar com a médica por telefone, só querem saber de covid. Desculpe meu desabafo. Obrigada pelo texto.
João Rodrigues
Infelizmente vivemos tempos muito complicados, e muitos problemas de saúde estão a passar para segundo plano por causa da terrível pandemia que nos está a afetar… Muita força! 🙂