O excesso de peso é um problema com uma origem multifatorial. São várias as razões que podem ser apontadas para a dimensão crescente deste problema, sendo que de uma maneira geral este tem tendência a ser mais frequente nos países mais desenvolvidos. Entre as principais pode-se destacar o sedentarismo crescente da população, pois cada vez há menos necessidade de nos mexermos para conseguirmos realizar a maior parte das tarefas do dia-a-dia. Por outro lado, a oferta alimentar tem vindo a mudar de forma abrupta. Quando falo em oferta alimentar, estou a referir-me não apenas à diversidade de alimentos disponíveis, mas também à sua qualidade nutricional que, infelizmente, muitas vezes tem vindo a ser desvalorizada, em relação ao sabor, cor ou textura… E isto para não falar nas quantidades oferecidas, pois por vezes aquilo que se considera uma dose, dava perfeitamente para 2 pessoas.
Não é dúvida para ninguém que o consumo excessivo de calorias está relacionado com o aparecimento da obesidade e, consequentemente, de muitas outras doenças, tais como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares ou vários tipos de cancro. Devido a isso, torna-se fundamental não apenas sensibilizar a população para esse problema, mas também implementar medidas que possam, na realidade, surtir efeito. Neste contexto, o ambiente que rodeia a alimentação pode ser particularmente crítico. Em Portugal têm sido dados (lentamente!) os primeiros passos, no sentido de modificar a oferta alimentar em escolas e hospitais, por exemplo. Mas ainda há muito a fazer… Além disso, alterar apenas o tipo de alimentos disponibilizados resolve apenas uma parte do problema. O ideal seria combinar esse tipo de medidas com outras que limitem, por exemplo, o tamanho das porções servidas.
A oferta alimentar tem mudado muito nas últimas décadas, quer ao nível da qualidade, quer ao nível da quantidade disponível. Devido a isso, para se melhorar a alimentação da população deve-se tentar atuar em ambas as características.
Recentemente foi publicado um artigo na revista International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, no qual se procurou perceber qual o impacto que uma diminuição no tamanho das porções teve nos hábitos alimentares dos consumidores. Foi observado que essa diminuição promoveu alterações ao nível da alimentação dos mesmos, nomeadamente uma redução na quantidade de calorias ingeridas.
Os resultados deste trabalho parecem-me muito interessantes por vários motivos. Em primeiro lugar, porque demonstram que, de uma maneira geral, é possível promover uma diminuição da quantidade de calorias ingeridas pela maior parte das pessoas. Em segundo lugar, porque revelam que atuando ao nível do tamanho das porções é possível ter uma intervenção mais abrangente. Se se pensar que a maior parte das pessoas acaba por fazer quase sempre pelo menos uma refeição fora de casa, percebe-se melhor o impacto que este tipo de medidas pode ter. Claro que diminuir apenas as porções não basta, é preciso sensibilizar as pessoas para a importância de não cometer exageros alimentares. E isto pode não ser tarefa fácil, pois muitas vezes quando alguém vai almoçar fora, durante a semana, acaba por escolher o local que serve as diárias com maior quantidade de alimentos. E normalmente esses locais são definidos como locais onde se “come bem”. Privilegiar a qualidade, o sabor, o aroma da comida, em vez da quantidade, parece-me fundamental para garantir a manutenção de uma composição corporal adequada e, consequentemente, para promover a saúde da população.
É possível promover uma diminuição na quantidade de calorias ingeridas se se reduzir o tamanho das porções servidas. Este tipo de estratégias pode ter um impacto significativo na promoção de uma alimentação mais saudável.