Adolescente obeso
Grávidas, crianças e adolescentes

O proeconceito associado à obesidade e as suas consequências…

O excesso de peso e a obesidade são problemas muito graves de saúde pública que, infelizmente, se encontram longe de estarem controlados. E se esta situação é preocupante nos adultos, em crianças e, em particular, nos adolescentes pode assumir dimensões verdadeiramente dramáticas. Não apenas por causa do impacto negativo que pode ter ao nível da saúde, como é óbvio, mas também por causa da pressão que a sociedade exerce sobre quem, por diversas razões, apresenta um peso superior ao ideal. Esta pressão pode fazer sentir-se de muitas formas diferentes, e as consequências podem ser inimagináveis e atingir proporções claramente assustadoras.


A adolescência é um período fantástico da nossa vida, no qual as mudanças ocorrem a uma velocidade incrível, com tudo o que tem de bom e tudo o que tem de mau. Devido a isso, é um período de maior vulnerabilidade emocional, e no qual há muitas expectativas, muitos sonhos, que se constroem e destroem a cada instante. E por isso encarar a adolescência com obesidade não deve ser uma tarefa nada fácil… Sabe-se que todos os adolescentes que sofrem desse problema enfrentam regularmente algum tipo de preconceito, sendo que as raparigas parecem ser mais vulneráveis ao mesmo do que os rapazes. Como se isso não bastasse, os estudos demonstram que muitas vezes as atitudes preconceituosas vêm de pessoas que lidam de perto com esses adolescentes, tais como família, amigos, colegas ou professores. Como é óbvio, nesses casos as marcas deixadas podem ser bem mais profundas, com um impacto muito negativo ao nível do bem-estar psicológico dos mesmos. Sentimentos como a baixa auto-estima, tristeza, ansiedade e medo tendem a ser frequentes, sendo que muitas vezes acabam por dar origem a problemas mais graves como depressão, tentativas de suicídio, distúrbios alimentares (anorexia ou bulimia), isolamento social, … No entanto, também há adolescentes que, por diversas razões, conseguem lidar melhor com esta estigmatização da obesidade, e adotam atitudes auto-protetoras.

 

Quem sofre de obesidade é frequentemente alvo de atitudes preconceituosas, sendo que essas atitudes surgem muitas vezes por parte de pessoas próximas. Esta situação pode levar a alterações significativas no bem-estar psicológico e emocional da pessoa.

 


Recentemente foi publicado um artigo na revista Pediatric Obesity no qual foi investigada a relação que existe entre a exposição a comportamentos preconceituosos e a resposta aos mesmos dada por adolescentes com excesso de peso/obesidade. Foi observado que a origem das atitudes preconceituosas afetou claramente a forma como os adolescentes lidavam com as mesmas. Quando a origem eram os amigos, a resposta tinha tendência a envolver emoções negativas, sendo que esta situação foi mais frequente nos rapazes, e provocou um maior grau de isolamento. Foi igualmente observado que uma exposição repetida a atitudes/comentários negativos provenientes de amigos ou da família se associou a um maior grau de indiferença por parte de quem os sofria. Este estudo revelou ainda que as raparigas se refugiavam mais na comida do que os rapazes, como forma de lidar com os preconceitos sofridos.


Se por um lado todos sabemos que não há ninguém perfeito, também é certo que nem sempre é fácil lidar com as nossas fragilidades. Principalmente quando os problemas são visíveis, e não se consegue escondê-los. É o que acontece com a obesidade. Não tenho dúvidas que quando alguém apresenta este problema, sofre. Sofre muito, mesmo que por vezes não seja visível. Sofre porque diretamente ou indiretamente a sociedade impõe regras que promovem a estigmatização de quem tem um peso superior ao normal. E muitas vezes esta estigmatização vem de quem menos o deveria fazer: a família e os amigos! Obviamente que não quero desvalorizar o problema da obesidade, pois trata-se de uma doença crónica que pode ter consequências terríveis para a pessoa e que, por isso, deve ser tratada. Portanto não me parece correto fechar os olhos e fingir que está tudo bem. Há muitas formas de tentar ajudar uma pessoa com obesidade a resolver esse problema, mas nunca através de atitudes ou comentários preconceituosos. Deve-se tentar perceber qual a razão por detrás dessa obesidade, qual o impacto real que esse problema tem no estado psicológico da pessoa, sem julgamentos nem preconceitos. Se a obesidade é uma doença, porque é que quem sofre da mesma deve ser alvo de alguma espécie de bullying? Se eu tiver uma amigdalite, ninguém me vai tratar de forma preconceituosa, por isso também não devem surgir preconceitos nem atitudes negativas em relação à obesidade. Só assim estaremos a contribuir de forma positiva para que quem sofre dessa doença possa, de facto, encará-la como um problema que pode e deve ser tratado…

 

Evitar qualquer tipo de atitude ou comentário preconceituoso em relação à obesidade é a melhor forma de tentar ajudar quem sofre desse problema. A obesidade é uma doença que afeta físicamente e psicologicamente a pessoa, e quem lida de perto com a mesma deve respeitar todas estas dimensões da situação.

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