Os ácidos gordos ómega-3 estão na moda! Mas atenção que não é uma moda injustificada, pois os seus potenciais benefícios para o funcionamento do nosso organismo, e para a promoção da saúde são muitos. Talvez o benefício mais conhecido seja o facto de o seu consumo estar associado a uma diminuição do risco de doenças cardiovasculares, através de uma diminuição dos lípidos sanguíneos, da pressão arterial e da coagulação sanguínea. Parecem também ter efeitos anti-inflamatórios e servem como reguladores do funcionamento do sistema imunitário. A principal fonte destes ácidos gordos são os peixes gordos, nomeadamente a sardinha, cavala, salmão, robalo, dourada, etc., bem como as nozes e algumas sementes (linhaça e chia, por exemplo).
Devido aos potenciais benefícios dos ácidos gordos ómega-3, tem sido investigado qual o seu impacto no âmbito do exercício físico. Neste contexto, parece haver uma tendência para estes ácidos gordos melhorarem a função respiratória, bem como a síntese de proteína muscular e a composição da gordura muscular. Obviamente que os efeitos estão sempre dependentes da dose, do tempo de exposição e, como é lógico, do tipo de exercício. Este é um tema envolto em bastante controvérsia, pois há muitos resultados contraditórios, mas que parece caminhar para uma tendência reveladora de potenciais benefícios ao nível da performance desportiva e da respetiva recuperação…
Num trabalho publicado recentemente, foi avaliado o impacto que o consumo de suplementos de ácidos gordos ómega-3, durante 4 semanas, teve em futebolistas de competição (homens e mulheres). A dose de ácidos gordos ómega-3 a que os futebolistas foram expostos foi 0,1g/kg de massa corporal, sendo que além dos ácidos gordos, cada cápsula continha também pequenas doses de vitamina E. Foi observado que o consumo destes suplementos não afetou de forma significativa a velocidade e a força dos desportistas. Também ao nível da função respiratória, o consumo de ácidos gordos ómega-3 não causou nenhum efeito significativo. No entanto, foi observado um efeito importante ao nível da resistência ao exercício físico anaeróbico, ou seja, o exercício físico mais intenso e de curta duração. Neste caso, os atletas sujeitos a suplementação conseguiram percorrer uma maior distância a correr à sua velocidade máxima, quando comparados com os atletas que não receberam os suplementos. Esta observação assume uma importância maior em casos de desportistas que pratiquem desportos de intensidade intermitente, com picos de exercício anaeróbico intercalados com períodos de menor intensidade de exercício físico, como é o caso do futebol. Apesar de não terem sido analisados outros desportos, será de supor que os resultados obtidos neste trabalho se possam aplicar também a outros contextos (andebol, basquetebol, etc.).
A nutrição anda sempre de mãos dadas com o desporto, e esta é uma área fascinante que tem crescido de forma particularmente evidente nos últimos anos. Apesar de todos os avanços que têm sido feitos, há ainda muito a fazer, pois na minha opinião ainda estamos muito longe de conseguir tirar todo o partido dos potenciais benefícios que uma alimentação saudável e adequada a cada contexto desportivo específico podem trazer ao nível do desempenho dos atletas. O grande desafio é conseguir criar intervenções que tenham em conta as especificidades de cada desportista e as especificidades de cada desporto e de cada momento desportivo (treino, pré-treino, pós-treino, competição, dias de folga, etc.). Ainda há muito a fazer e a aprender, mas sem dúvida que estamos no bom caminho…