Provavelmente já ouviu alguém dizer que fez análises e que tem valores de colesterol elevados. Ou então tem níveis aumentados de triglicéridos (ou triglicerídeos, que é a mesma coisa)… Há ainda que refira que tem alterações no “bom colesterol”, ou no “mau colesterol” (mais informações sobre o colesterol neste post). Todas estas alterações que eu referi chamam-se dislipidemias, que basicamente podem ser descritas de forma simples como uma condição na qual há alterações nos níveis de um ou mais tipos de gordura no sangue. A presença de dislipidemia pode aumentar o risco de aparecimento de várias doenças, entre as quais doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro ou diabetes.
Quando alguém sofre de dislipidemia, essa situação pode estar relacionada com vários fatores. Como é óbvio, a genética pode ser um fator muito importante, pois há pessoas que apesar de terem um estilo de vida saudável, apresentam níveis de lípidos alterados no sangue. No entanto, em muitos casos a dislipidemia tem uma origem comportamental. Ter um estilo de vida sedentário, ser fumador ou consumir álcool são fatores que podem levar ao aparecimento dessa situação. Além disso, como é lógico, a alimentação pode ser um fator decisivo a esse nível. E a este nível há tanto por dizer… a quantidade e o tipo de hidratos de cabono ingeridos, e a quantidade e o tipo de lípidos ingeridos são possivelmente as duas características alimentares que mais influenciam os níveis de lípidos no sangue. Quando se fala em tipos de lípidos ingeridos, normalmente dá-se muita atenção aos potenciais efeitos negativos das gorduras saturadas, e potenciais benefícios das gorduras insaturadas (os chamados “ómegas”). No entanto, nos últimos tempos houve outra característica que começou a ser muito valorizada, que está relacionada com o tamanho das cadeias das gorduras. E esta discussão surgiu principalmente devido à fama que o óleo de coco (rico em gordura de cadeia média) conquistou nos últimos meses…
A dislipidemia é uma condição na qual existem alterações nos níveis de gordura no sangue. Pode ter origem em estilos de vida menos saudáveis, nomeadamente ao nível da alimentação.
Recentemente foi divulgado um artigo na revista científica American Journal of Clinical Nutrition no qual se procurou perceber qual o efeito do consumo de gordura saturada de cadeia média e de cadeia longa nos níveis sanguíneos de HDL (o chamado “bom colesterol”). Os resultados obtidos revelaram que o consumo de gordura de cadeia média estava associado a níveis mais elevados de HDL do que o consumo de gordura de cadeia longa.
Antes de começarem já a pensar que afinal o óleo de coco é saudável, e que faz bem à saúde cardiovascular, há alguns aspetos que me parecem muito importantes. Em primeiro lugar, este estudo avaliou apenas o impacto do tamanho da cadeia de gorduras saturadas, não comparou os efeitos obtidos com aqueles que são obtidos após o consumo de gorduras insaturadas. Estas últimas são, de facto, mais benéficas para a nossa saúde do que a gordura saturada, e esses benefícios são vários (em breve irei escrever sobre este assunto aqui no blog). Ou seja, não é por a gordura de cadeia média ser aparentemente mais saudável do que a gordura de cadeia longa que se pode dizer que se trata do tipo de gordura saudável. Já aqui tive oportunidade de o referir, mas na minha opinião a melhor fonte de gordura alimentar em quase todos os contextos é o azeite (mais informações sobre o azeite neste post). Em concordância com o que acabei de dizer, as recomendações atuais referem que o consumo de gordura saturada deve ser o mais baixo possível, independentemente do tamanho da cadeia. Por último, acho também importante destacar que o artigo que eu referi demonstra que as gorduras saturadas aparentemente não são todas iguais. E é aqui que o consumo de óleo de coco pode marcar alguns pontos, na substituição de uma fonte de gordura saturada de cadeia longa. As gorduras não são todas iguais e por isso é fundamental conhecer quais as suas vantagens e desvantagens de forma a poder fazer as melhores opções alimentares.
O consumo de gordura saturada de cadeia média parece ser mais benéfico do que o consumo de gordura saturada de cadeia longa. Apesar disso, o consumo de gordura insaturada continua a ser considerado a melhor opção alimentar.