A obesidade é uma doença extremamente complexa! A sua presença na sociedade é cada vez mais evidente e apesar de ser reconhecido que se trata de uma doença (muito) grave, parece-me claramente que ainda estamos numa fase muito precoce no combate à mesma. Não basta dizer que a obesidade é uma consequência de comermos mais do que devemos e e termos menos atividade física do que devemos! Se fosse assim tão simples, porque é que a obesidade tem aumentado? É preciso compreender os detalhes, os pormenores que podem fazer a diferença. Afinal, o que é que controla o apetite? De que forma é que se pode alterar a sensação de fome? Será que é possível comer melhor sem ser sinónimo de passar fome ou comer apenas coisa que não se gosta? Estas são apenas algumas questões que podem e devem ser colocadas, se de facto se quiser compreender melhor a obesidade e, acima de tudo, lidar melhor com a obesidade…
Seguramente que um dos aspetos que contribui para os níveis dramaticamente elevados de obesidade é o consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas. De facto, este consumo disparou nas últimas décadas, e é simplesmente assustador pensar que uma grande parte da população bebe muito mais bebidas açucaradas do que água! Apesar de, justificadamente, a maior parte da atenção ser dada à quantidade de açúcar presente nessas bebidas, há também outros fatores a ter em consideração. Um deles parece-me óbvio, que é o sabor. Mas há outro aspeto que normalmente não é tão valorizado e que pode ser bastante relevante. Estou a falar da temperatura da bebida… Na realidade, se pensarmos em refrigerantes como uma cola ou um chá gelado, facilmente percebemos que a temperatura pode ser um fator crítico para o seu consumo. Perceber de que forma é que a temperatura das bebidas condiciona a sua aceitação e consumo é, por isso, algo que me parece muito interessante e potencialmente importante.
A obesidade é uma doença muito complexa, cuja prevalência tem vindo a aumentar na população mundial. Um dos fatores que está relacionado com esse aumento é o consumo de refrigerantes.
Recentemente foi divulgado um estudo na revista American Journal of Clinical Nutrition no qual foi analisado o impacto da temperatura de água e água com açúcar na resposta dos consumidores. Foi observado que a temperatura a que a bebida se encontrava influenciou a resposta dos participantes do estudo. Mais concretamente, o consumo de água a 0ºC, ou de água com açúcar a 0ºC e a 22ºC aumentou a sensação de saciedade, mas o consumo de água a 22ºC não provocou esse efeito.
Pessoalmente gosto deste tipo de estudos que tentam ir mais além do pensamento tradicional, e tentam perceber se há outras variáveis que podem contribuir para aumentar ou diminuir o consumo alimentar. A temperatura das bebidas é, seguramente, um aspeto que poderá ter alguma relevância neste contexto. Se calhar é uma visão demasiado ambiciosa ou mesmo utópica, mas penso que só conjugando todas as variáveis é que vai ser possível encarar a alimentação como um todo, e perceber realmente de que forma é que se pode tirar partido da mesma. A perspetiva “matemática” da alimentação, na qual se valoriza a quantidade de todos os nutrientes é, sem dúvida importante, mas seguramente que há muito mais para lá destes cálculos. Compreender as características individuais de cada pessoa, as suas expectativas e preferências, e adaptar a alimentação de forma a que a essa pessoa possa atingir os seus objetivos é um desafio constante, (muito) difícil de alcançar, mas acredito que não é impossível. Acompanhar os avanços científicos mais recentes deve ser, por isso, uma prioridade para qualquer profissional de nutrição…
A temperatura das bebidas parece influenciar o seu efeito ao nível da saciedade, mesmo que as mesmas tenham composição diferente. se pode ser mais um fator a considerar quando o objetivo é diminuir o consumo alimentar.