Já se imaginou a comer insetos? E não estou a falar de algo acidental, que acontece quando inesperadamente um inseto acaba por entrar na nossa boca, ou cai na comida sem nós nos apercebermos. Estou a falar de comer intencionalmente insetos, como parte dos seus hábitos alimentares. Na realidade, estes pequenos seres considerados “repugnantes” por muitas pessoas já desempenham um papel muito relevante na alimentação de vários povos. E na realidade não é uma minoria, como pode estar a pensar, pois estima-se que cerca de 80% da população mundial inclua insetos no seu padrão alimentar! Nós não somos seguramente um deles, mas esta situação pode mudar num futuro mais ou menos próximo…
Quando se analisa o consumo de insetos, surgem vários argumentos contra, e outros a favor. Começando pelos primeiros, obviamente que no topo da lista está a repulsa que muitas pessoas sentem quando veem insetos. E se o objetivo não for apenas ver, mas também comer, o cenário fica ainda pior… Além disso, também o sabor e a textura são diferentes dos alimentos que habitualmente consumimos no nosso dia-a-dia, o que pode causar uma menor aceitação dos mesmos. Também o facto de os insetos muitas vezes se alimentarem de alimentos/animais em decomposição não ajuda muito na sua aceitação. Adicionalmente, como os insetos tendem a ser pequenos, o facto de muitas vezes ser possível observar o animal inteiro pode despertar alguns problemas de consciência alimentar que não surgiriam, por exemplo, se no prato fosse colocada apenas uma pequena parte de um animal (um bife, por exemplo). Por último, convém não esquecer que alguns insetos são venenosos, e estes não devem ser ingeridos.
Para muitas pessoas comer insetos é considerado algo nojento, e que seriam incapazes de o fazer.
Por outro lado, como seria de esperar, o consumo de insetos também está associado a várias potenciais vantagens… Começaria por destacar a sua riqueza nutricional, pois são uma excelente fonte de proteína, com uma concentração compreendida entre 20-76%. Contêm ainda grandes quantidades de vários minerais, com especial destaque para o ferro (mais informações sobre o ferro neste post). Além disso, comparativamente com a produção de outros animais, a produção de insetos é muito menos exigente em termos de recursos ecológicos. Para ter uma ideia, para se produzir 1kg de carne de vaca gasta-se o equivalente a 15L de água, enquanto que para se produzir 1kg de larvas são necessários apenas 4L de água. Além disso, requer muito menos área para a sua produção. Também ao nível da emissão de gases com efeito de estufa, nomeadamente o metano, a produção de insetos promove uma libertação de menos 10-80%, quando comparada com a produção animal. Ou seja, dito de uma forma mais simples, tem muito menos impacto negativo no meio-ambiente, sendo por isso mais sustentável. O facto de os insetos tendencialmente se reproduzirem num curto período de tempo, faz também com que seja possível obter mais rapidamente grandes quantidades de alimentos que, se forem bem geridas, podem contribuir de forma decisiva para o combate à fome em regiões menos favorecidas. Por último, a produção de insetos pode ser muito rentável do ponto de vista económico, podendo por isso ser muito importante para a economia de famílias ou regiões.
A produção de insetos tem um impacto menos negativo no meio ambiente, comparativamente à produção animal.
Ou seja, há vários argumentos contra e a favor do consumo de insetos. Este assunto está longe de ser consensual, mas acredito que gradualmente estes pequenos seres vivos vão-se tornar mais presentes na alimentação de populações que atualmente ainda consideram essa situação impensável…