O consumo de gordura é algo bem mais complexo do que pode parecer… Por um lado há que considerar as calorias, pois trata-se (de longe!) do macronutriente mais calórico (mais informações sobre os macronutrientes neste post). No entanto, há outros aspetos igualmente importantes que devem ser tidos em consideração. Estou a falar, essencialmente, do tipo de gordura que é consumida, pois o impacto para a saúde pode ser muito variável… A gordura saturada (maioritariamente encontrada em alimentos de origem animal) tem vindo a ser associada a um aumento do risco de várias doenças crónicas, nomeadamente doenças cardiovasculares (mais informações sobre a gordura saturada neste post). Por outro lado, a gordura insaturada (encontrada principalmente em alimentos de origem vegetal) parece ter um efeito protetor da nossa saúde (mais informações sobre a gordura insaturada neste post). Há ainda a considerar um terceiro tipo de gordura, particularmente perigoso, que é a gordura trans, também chamada de gordura parcialmente hidrogenada. De uma maneira geral, esta gordura estimula a inflamação e aumenta o risco de várias doenças crónicas, pelo que o seu consumo deve ser tão baixo quanto o possível. A gordura trans pode ter origem industrial, sendo maioritariamente encontrada em bolachas, folhados e produtos de pastelaria. Pode também ter uma origem natural, estando presente no leite (e derivados) e na carne dos animais ruminantes (vaca, por exemplo).
Uma das doenças crónicas mais preocupantes no contexto atual é, sem dúvida nenhuma, a obesidade. Trata-se de um gravíssimo problema de saúde pública que, ao contrário da maior parte das doenças crónicas, tem uma prevalência muito elevada nos mais jovens. São vários os fatores que podem contribuir para este facto, que vão desde más opções alimentares até ao sedentarismo proporcionado pelos avanços tecnológicos. Independentemente de quais as causas, a obesidade infantil tem consequências dramáticas a nível físico e psicológico, que condicionam não só o presente, mas também o futuro das crianças.
Apesar de a gordura ser muito calórico, há vários tipos diferentes, com consequências diferentes para a saúde.
Recentemente foi publicado um estudo na revista científica Pediatric Obesity que procurou analisar a relação entre o consumo de gordura trans e o risco de excesso de peso/obesidade em crianças com 4-5 anos. Foi observada uma associação clara entre o consumo de gordura trans industrial e o exesso de peso/obesidade. Curiosamente, o mesmo não foi observado em relação à gordura trans natural.
Este trabalho parece-me muito importante por várias razões. Em primeiro lugar, vem mais uma vez demonstrar que a nutrição não pode ser encarada apenas como um exercício de contagem de calorias, ainda que este seja obviamente um aspeto muito importante. Em segundo lugar, revela também que a proveniência da gordura trans parece ser um fator chave para as possíveis consequências da mesma. Infelizmente as fontes alimentares de gordura trans industrial (bolachas, produtos de pastelaria, etc.) fazem parte das rotinas alimentares de muitas crianças, e obviamente que isso pode ter consequências diretas na saúde das mesmas. É, por isso, fundamental saber ler rótulos (mais informações sobre leitura de rótulos neste post), e tentar recolher informações sobre os alimentos que damos às crianças, que incluam os suspeitos do costume (que é como quem diz, as calorias e o açúcar), mas que contemplem outros ingredientes igualmente importantes, como é o caso da gordura trans…
O consumo de gordura trans de origem industrial parece aumentar o risco de excesso de peso/obesidade em crianças.
Referência do artigo: Pediatric Obesity. 2019;e12528