O açúcar é, possivelmente, o ingrediente mais diabolizado pela maior parte das pessoas. Há quem o associe a vários tipos de doenças, há quem o associe a um elevado potencial calórico, há quem o associe a uma potencial dependência alimentar, enfim, não faltam supostos malefícios associados a esta (agri)doce substância. E se nalguns casos há, de facto, alguma verdade associada a alguns riscos que lhe são atribuídos, também me parece por vezes exagerada a reação negativa e o fundamentalismo que desperta noutros casos. Até porque muitos dos alimentos que devem ser consumidos com regularidade contêm naturalmente açúcar. Estou a falar na fruta, nalguns hortícolas, no leite, no iogurte, etc. Ou seja, obviamente que não se pode generalizar e de repente tudo o que tem açúcar é um alvo a abater e deve ser abolido da alimentação. Até porque, para muitas pessoas, o consumo de alimentos/bebidas doces pode ser uma fonte de bem-estar psicológico. Contudo, obviamente que o consumo de açúcar deve ser um aspeto a ter em consideração, quando o objetivo é ter um padrão alimentar equilibrado e saudável.
Sabe-se que o consumo de bebidas açucaradas (nomeadamente sumos e refrigerantes) está associado a um aumento do risco de obesidade, síndrome metabólica e diabetes. Devido a isso, já há bastantes países (incluindo Portugal!), que decidiram aumentar os impostos associados ao consumo de bebidas com elevado teor de açúcar, no sentido de forçar uma diminuição do seu consumo e, consequentemente, uma melhoria na saúde pública. Curiosamente, quando se fala nos malefícios/riscos associados ao consumo de açúcar, existe uma grande tendência para se valorizar maioritariamente o consumo de bebidas açucaradas. No entanto, como é lógico também existem muitos alimentos sólidos com quantidades elevadas de açúcar, pelo que o impacto do seu consumo na saúde também deve ser igualmente analisado.
O consumo de açúcar parece estar associado a um aumento do risco de aparecimento de vários problemas de saúde, nomeadamente obesidade, síndrome metabólica e diabetes.
Recentemente foi publicado um artigo na revista científica Obesity que procurou perceber se existe evidência científica que demonstre que o consumo de bebidas açucaradas acarreta um maior risco para a saúde do que o consumo de alimentos açucarados. Curiosamente, foi observado que de facto parece haver um maior risco de aparecimento de síndrome metabólica associado ao consumo de bebidas açucaradas.
Este estudo é muito interessante, e permite fazer algumas reflexões que me parecem importantes. Em primeiro lugar, vem demonstrar mais uma vez que o consumo de bebidas açucaradas tem, efetivamente, um potencial negativo para a nossa saúde, ainda que, obviamente, esse potencial dependa do tipo de bebida, bem como da quantidade e frequência de consumo (por exemplo, um consumo esporádico e em quantidade moderada é, para a maior parte das pessoas, aceitável). Em segundo lugar, revela que possivelmente não se deve tratar todas as fontes de açúcar da mesma forma, havendo algumas aparentemente mais “perigosas” do que outras. Apesar de o açúcar ser o mesmo, do ponto de vista bioquímico, eventualmente a forma como o açúcar é digerido e absorvido (estes processos são mais rápidos nas bebidas do que nos alimentos sólidos), bem como a própria matriz do alimento podem ser aspetos relevantes. Além disso, também a quantidade de açúcar consumida através das bebidas pode ser mais elevada do que a proveniente dos alimentos sólidos. Para terminar, gostava de deixar uma informação que, seguramente, o vai deixar a pensar, e que encaixa perfeitamente neste post: atualmente estima-se que cerca de 184000 mortes prematuras por ano estejam relacionadas com o consumo de bebidas açucaradas…
O consumo de bebidas açucaradas parece ser mais prejudicial do que o consumo de alimentos sólidos açucarados.
Referência do artigo: Obesity (2019) 0, 1-9. doi:10.1002/oby.22472