Nutrição geral

Coronavírus e alimentação… uma relação (in)evitável?

O novo coronavírus, batizado recentemente como COVID-19, é o assunto do momento! Diariamente assistimos a notícias sobre novos casos de infeções e mortes em diversos países, o que tem causado algum alarmismo na população. Este vírus pode causar pneumonia, sendo que as suas principais manifestações são a tosse, febre e dificuldades respiratórias.


Como se trata de uma situação relativamente recente, há ainda muitas incertezas e dúvidas sobre o COVID-19. Acredita-se que, tal como outros coronavírus, tenha tido origem nalgum animal, e depois foi transmitido ao ser humano. Como muitas das pessoas infetadas inicialmente são trabalhadores do mercado de Wuhan (região da China onde a doença teve início), ou seus clientes frequentes, levantou-se a hipótese deste ter sido o local onde a transmissão do vírus para o ser humano ocorreu. O facto de nesse mercado serem vendidos vários tipos de animais exóticos vivos ou mortos recentemente ajuda a suportar esta ideia. Há quem diga que pode ter sido um morcego, há quem fale em ratos, pangolins, ou outros animais. Independentemente de qual tenha sido o animal que transmitiu pela primeira vez a doença para o ser humano, há algumas considerações que me parecem importantes…

 

Acredita-se que o COVID-19 tenha tido origem nalgum animal que depois o transmitiu para o seu humano, provavelmente no mercado de Wuhan.

 


Já não é a primeira vez que uma infeção vírica é transmitida para o ser humano a partir de outro animal. O vírus da Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS) e da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) são bons exemplos disso mesmo. É preciso parar para refletir sobre estas situações, de forma não só a perceber melhor as características individuais das mesmas, mas acima de tudo para saber o que fazer para prevenir o aparecimento de outras situações equivalentes. Países como a China têm crenças populares ligadas à alimentação muito fortes. E até aqui nada contra, pois acho fascinante a diversidade de identidades gastronómicas que existe no nosso planeta. No entanto, algumas dessas crenças potenciam claramente hábitos de risco. No caso da China, há uma cultura alimentar designada de “jinbu” que traduzida significa “preencher o vazio”. Dito de uma forma simples, defende que é melhor curar uma doença com alimentos do que com medicamentos, pois supostamente a doença surge quando o corpo está com falta de sangue e de energia. Devido a isso, é encorajado o consumo de animais exóticos crus. E é aqui que, eventualmente, poderá ter estado a origem do problema!


Ou seja, um simples ato “inocente”, baseado em crenças e costumes antigos, nos quais a ciência não tem qualquer interferência nem poder, pode ter estado na origem de um problema que ganhou claramente uma dimensão mundial. Numa altura que se discute tanto (e bem!) qual é o impacto da nossa alimentação na saúde do planeta, e na saúde individual de cada um de nós, é preciso perceber que há outra dimensão que não pode ser desvalorizada, que é o impacto que as escolhas alimentares podem ter na saúde pública. Preservar tradições e a individualidade de diferentes grupos populacionais não pode ser sinónimo de assobiar para o lado e fingir que não se passa nada, ou assumir como um dado adquirido que este tipo de situações é inevitável. Não é um problema com resolução fácil, e não me parece que proibições e regras excessivas possam ser a verdadeira solução. É preciso pensar a longo prazo, educar as populações, mostrar que há crenças e práticas populares que, com base no conhecimento atual, não fazem sentido. Ensinar ciência (sempre com a consciência de que o conhecimento é algo dinâmico) e combater a pseudo-ciência devia ser uma obrigação de todos os estados. É um caminho árduo, e que eventualmente vai demorar algumas gerações para se obter resultados, mas no final todos ficamos a ganhar!

 

A nova epidemia associada ao COVID-19 deve ser um ponto de partida para melhor a educação científica das populações, para que erros do passado não sejam cometidos no presente.

 


Por isso termino este post com dois desejos… Espero que a dimensão desta epidemia fique claramente aquém das estimativas atuais (tal como aconteceu recentemente com a Gripe das Aves ou a Gripe A). E espero que seja o ponto de partida para uma reflexão e discussão global sobre a segurança alimentar não apenas para cada pessoa individualmente, mas acima de tudo para a população em geral!

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