A alimentação é um assunto extremamente complexo, que envolve muitas variáveis e que direta- ou indiretamente, afetam tudo aquilo que somos ou sentimos. E é esta complexidade que me fascina e que me motiva a querer aprender mais todos os dias, pois acredito que quanto mais abrangente for a visão que temos sobre a alimentação, melhor preparados estaremos para tomar decisões alimentares mais acertadas. É um desafio constante, eventualmente demasiado ambicioso, mas enquanto nutricionista permite-me estar sempre muito motivado para desempenhar a minha profissão da melhor forma possível.
Quem me conhece sabe que um dos aspetos que eu mais valorizo na alimentação é a parte psicológica da mesma. Apesar de ser fundamental a parte matemática associada ao cálculo das calorias e dos diferentes nutrimentos, quando se muda alguma coisa na alimentação, essa mudança tem que fazer sentido para a pessoa. Dito de uma forma simples, de que é que adianta eu prescrever um plano “perfeito” do ponto de vista nutricional, se a pessoa tiver que passar a comer de uma forma que não tem nada a ver com ela, nem com o seu dia-a-dia? A alimentação deve ser fonte de bem-estar psicológico, e esta dimensão, um pouco mais abstrata, não pode nem deve ser desvalorizada.
Na realidade, quando alguém anda mais stressado ou ansioso, na maior parte das vezes utiliza determinados alimentos para obter algum conforto (o chocolate ou o gelado estão no topo da lista para quase toda a gente!). Ou então, vai para a cozinha e começa a cozinhar… Ou pode ainda ir às compras, comprar determinados alimentos. Portanto, a alimentação, e, dito de uma forma mais abrangente, a forma como lidamos com os alimentos, é um importante fator que contribui para a nossa individualidade em cada instante.
Existe uma relação inegável entre a alimentação e o nosso bem-estar psicológico, que envolve não apenas a parte do consumo dos alimentos, mas também a sua escolha e preparação.
Olhando de uma forma mais científica, a alimentação tem o poder de alterar o funcionamento do cérebro, atuando nos chamados “centros de recompensa”, tal como acontece com outras substâncias, como, por exemplo, as drogas. Globalmente, o açúcar e a gordura tendem a ser dois fatores que promovem a felicidade, ainda que, como é óbvio, as preferências individuais sejam igualmente importantes.
Se a estas ideias somarmos o facto de que, ver os outros comerem comida preparada ou oferecida por nós, é também por si só um cenário de conforto mental, facilmente se percebe que há uma ligação forte entre a alimentação e o que se sente emocionalmente… Se alimentar os outros é um ato de amor (basta pensar na felicidade que dá vermos um filho a comer com satisfação aquilo que lhe damos), então alimentarmo-nos (corretamente!), é também um ato de amor… próprio! E se a regra deve ser comer bem, valorizando escolhas alimentares saudáveis, não nos podemos esquecer dos pequenos prazeres alimentares que por vezes fazem tanta falta. Mesmo que a pessoa esteja a fazer dieta, tem que existir margem para que, com bom-senso, alguns alimentos possam ser ingeridos em determinadas alturas. Ou, dito de outra forma, mesmo quem quer perder peso deve ser capaz de o fazer continuando a obter prazer com a alimentação!
Por último, convém não esquecer que há determinadas cores, formas e texturas dos alimentos que estão associados a uma maior felicidade por parte de quem os consome. Além disso, como comer é também um ato emocional, pois há determinadas memórias que são criadas durante a alimentação, e que criam um vínculo emocional com determinados alimentos. Por isso é que mais tarde, a visualização desses alimentos, o sentir o seu cheiro, ou a ingestão dos mesmos acabam por trazer-nos felicidade, pois trazem à memória boas recordações…
Concluindo, não há dúvidas que comer não serve apenas para satisfazer necessidades básicas. Há muito para lá dessa ideia, nomeadamente o bem-estar psicológico. Em breve irei dedicar alguns posts aos nutrientes e aos alimentos que têm potencial para promover esse bem-estar. Perceber o que determina a felicidade associada à alimentação é um passo fundamental para se perceber como é que se pode alterar hábitos alimentares, sem diminuir a felicidade de quem os altera e, se possível, aumentando a mesma!
A alimentação está intimamente relacionada com o bem-estar psicológico e, em particular, com a sensação de felicidade.
2 Comments
Glauca Melo Wernik
Perfeito meu colega Nutricionista!!!
Como disse em minha conversa a Nutrição é e deve ser explorada como fonte de vida.
Muito se engana quem diz ser uma área de restrições, regras e proibições.
Satisfação em conhece-lo e poder iniciar uma parceria.
Certa de q ampliaremos um conceito muito mais valioso e saudável em nossa profissão, proporcionando uma visão mais verdadeira, ampla e de SUCESSO sobre a verdadeira NUTRIÇÃO.
NUTRINDO HÁBITOS JUNTOS!!!
João Rodrigues
É isso mesmo, já percebi que temos uma visão muito parecida da nutrição e da alimentação. 🙂