Nutrição geral

O consumo de gordura ómega-3 e o risco de obesidade…

A obesidade é uma doença crónica que, apesar de infelizmente ser cada vez mais frequente, está longe de estar controlada e, acima de tudo, compreendida. Por um lado, sabe-se que a obesidade é por si só um fator de risco para vários problemas graves de saúde, tais como hipertensão arterial (mais informações sobre a hipertensão neste post), diabetes (mais informações sobre a diabetes neste post), vários tipos de cancro, entre outros. Por outro lado, o seu aparecimento e desenvolvimento são extremamente complexos, com muitos fatores envolvidos, e por isso se diz que se trata de uma doença multifatorial. Quando se pensa nas principais variáveis responsáveis pela obesidade, há 3 que normalmente merecem destaque: a alimentação, a atividade física e a genética. E se em relação às duas primeiras é possível fazer mudanças significativas, já em relação à terceira não há tanta margem de manobra para fazer alterações, pelo menos atualmente…


A forma como se encara o papel da genética na obesidade varia muito de pessoa para pessoa. Sem querer desvalorizar esse papel, ninguém fica obeso apenas por questões genéticas. A obesidade surge porque a quantidade de calorias que se ingere é superior à quantidade que se gasta. A genética pode é diminuir muito a quantidade de calorias gasta pela pessoa, e, consequentemente, dificultar a manutenção de um peso mais baixo. Ou seja, a genética tem um papel fundamental no estabelecimento da relação entre o que se gasta e o que se consome. Devido a isso, tem sido avaliada a possibilidade de interferir com esta influência, no sentido de diminuir o contributo da genética na obesidade.

 

Além da alimentação e da atividade física, a genética é também um fator que pode ter uma influência muito significativa na composição corporal de cada um.

 


Recentemente foi publicado um artigo na revista American Journal of Clinical Nutrition, no qual se procurou perceber se o consumo de peixe, e em particular gordura insaturada ómega-3 (atualmente chamada de forma mais correta como n-3), tinha algum efeito na gestão do peso em pessoas com características genéticas associadas à obesidade. De uma maneira geral foi observado que o consumo de peixe e gordura n-3 promoveu uma atenuação da influência da genética na composição corporal dos participantes no estudo. ou, dito de uma forma simples, contribuiu para uma maior perda de peso/manutenção de um peso mais baixo.


Este estudo parece-me particularmente interessante por vários motivos. Em primeiro lugar reforça a ideia de que a genética isoladamente não pode ser considerada a única responsável por uma pessoa ter um peso superior ao normal. Obviamente que não estou a desvalorizar o seu contributo, que por vezes é muito significativo, apenas me limito a dizer que a genética, neste caso, não é sinónimo de uma sentença irreversível. Em segundo lugar, fica bem demonstrado o poder que a alimentação tem a este nível, e é isso que torna ainda mais fascinante a minha profissão! É também por causa de estudos como este que a velha máxima “Nós somos o que comemos” se continua a aplicar. Em terceiro lugar, fica demonstrada a importância que escolhas alimentares adequadas podem ter ao nível da composição corporal. Neste caso em particular, o consumo de peixe e de gordura insaturada n-3 revelou ser potencialmente benéfico para ajudar a gerir melhor a composição, em casos de pessoas nas quais a genética não lhes era favorável. Ou seja, comer bem não significa apenas ter cuidado com as calorias ingeridas, ou escolher alimentos ricos em vitaminas e minerais. Trata-se também de saber tomar boas decisões na altura de optar entre alimentos supostamente equivalentes. Consumir mais vezes peixe é um excelente exemplo dessa situação…

 

O consumo de peixe, e em particular da sua gordura insaturada n-3, parece ser um importante aliado na manutenção de um peso mais baixo em pessoas com predisposição genética para a obesidade.

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