Grávidas, crianças e adolescentes

Será que a poluição afeta as nossas decisões alimentares?

A poluição é um assunto sério! Aliás, é muito sério, e por muito que se debata e se discuta o mesmo, haverá sempre coisas por dizer. As consequências da exposição aos mais variados poluentes refletem-se a vários níveis, prejudicando não apenas a saúde do nosso planeta, como a nossa própria saúde. Uma das possíveis consequências para a nossa saúde é o aumento do risco de obesidade infantil. Convém não esquecer que a obesidade infantil pode ter consequências dramáticas para quem sofre da mesma, não apenas no presente, mas também no futuro. Não há grandes dúvidas que uma criança com obesidade tem uma probabilidade maior de vir a sofrer de várias doenças crónicas no futuro, nomeadamente diabetes, doenças cardiovasculares e vários tipos de cancro.


A forma como a poluição está relacionada com o aumento do risco de obesidade é ainda um mistério. Parece evidente que a relação existe, mas como é um assunto complexo de estudar, nem sempre é fácil obter respostas. Há quem defenda que alguns dos poluentes têm efeito direto nas nossas células, alterando o seu funcionamento, sendo que essas alterações serão responsáveis pela obesidade, entre outras potenciais consequências. Alternativamente, também existe a teoria de que a exposição a vários poluentes pode afetar a forma como nós encaramos a alimentação e esse sim, será o fator desencadeador da obesidade. Se se tiver em consideração que o cérebro das crianças ainda se encontra em fase de maturação, percebe-se que pelo menos do ponto de vista teórico é possível que alguns poluentes possam, de facto, afetar o seu funcionamento.

 

A exposição ambiental à poluição tem vindo a ser relacionada com um aumento do risco de obesidade infantil.

 


Recentemente foi publicado um artigo na revista científica American Journal of Clinical Nutrition no qual se procurou perceber se existia alguma associação entre a exposição à poluição no ar e o padrão alimentar de adolescentes. Os resultados obtidos revelaram que quanto maior a exposição à poluição, maior o consumo de alimentos ricos em gordura (em especial gordura trans, ou parcialmente hidrogenada, que é a gordura mais perigosa de todas). Neste contexto foi destacado em particular o potencial efeito que a poluição associada ao tráfego automóvel no padrão alimentar dos participantes no estudo.


Os dados apresentados neste trabalho são, na minha opinião, muito interessantes, pois permitem perceber a complexidade de fatores que podem influenciar as nossas escolhas alimentares. Ainda por cima porque o estudo teve em consideração outras características importantes que poderiam interferir com os resultados obtidos, nomeadamente o estrato sócio-económico e a acessibilidade a restaurantes de fasfood, por exemplo. Obviamente que a exposição à poluição é, por si só, um fator com consequências potencialmente muito negativas para a saúde, devido a efeitos diretos em vários órgãos do nosso corpo. Mas este artigo vai mais além desta ideia, e sugere que a poluição pode ser mais um interveniente importante na definição do nosso padrão alimentar, em particular durante a adolescência, que é um período crítico para a formação de uma verdadeira consciência alimentar. Por isso, combater a poluição é também sinónimo de promover uma alimentação mais saudável…

 

A exposição à poluição parece estar relacionada com piores opções alimentares em adolescentes.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *