Nos últimos tempos tem-se assistido a várias discussões públicas e propostas legislativas no sentido de melhorar a oferta alimentar nas escolas. Os primeiros passos já foram dados… Muitos dirão que o que foi feito é ainda pouco, e eu concordo, mas pelo menos o tema já faz parte da agenda dos principais partidos políticos, e isso é bom sinal. De qualquer das formas, sendo um assunto tão delicado, e que interessa a (quase) todos, acredito que há mudanças que podem e devem ser feitas mesmo que a lei não obrigue a tal. Afinal, se podemos mudar para melhor, porque é que esperamos que seja publicada uma lei qualquer para nos obrigar a fazer essa mudança?
Eu sei que se trata de um tema muito sensível, e confesso que ponderei seriamente não escrever este post, mas acredito que há ainda muito a fazer e eu, humildemente, estou a dar o meu pequeno contributo nesse sentido. É preciso ter a noção de que a alimentação é um dos fatores que define a nossa individualidade, pelo que, ao limitar as escolhas alimentares, pode-se pensar que, de alguma forma, se está a limitar a liberdade dos mais novos. No entanto, convém não esquecer que esta suposta “limitação da liberdade” ocorre a cada instante, pois há regras nas sociedade que todos devemos respeitar. Por exemplo, não se pode fumar em espaços públicos fechados, mas dentro de casa cada um tem a liberdade de o fazer. Se a escola é um espaço vocacionado, na sua essência, para a aprendizagem, parece-me perfeitamente aceitável que não estejam disponíveis todos os alimentos que se encontram, por exemplo, num hipermercado. Ou seja, no fundo não se trata de uma verdadeira limitação da liberdade, mas sim de uma adequação da oferta alimentar ao propósito básico da escola – ajudar no desenvolvimento e formação das crianças.
A escola tem um papel fundamental no desenvolvimento das crianças, pelo que poderá fazer sentido existirem regras rigorosas que limitem a oferta alimentar nesse local.
Muitas vezes em palestras eu questiono a plateia se seriam favoráveis a regras rigorosas no que se pode enviar para o lanche das crianças, ou no que é vendido nas escolas. Confesso que fico agradavelmente surpreendido quando percebo que há muitos pais/cuidadores disponíveis para que tal aconteça, sem acharem, de alguma maneira, que estão a ser privados da sua liberdade. A saúde dos mais novos agradece!
Não há dúvida que a escola desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das crianças. No desenvolvimento físico, no desenvolvimento psicológico, na criação de valores, mas também na criação de uma consciência de cidadania e, consequentemente na criação de uma consciência alimentar. Porque, afinal, comer é muito mais do que satisfazer necessidades básicas, é um ato de cidadania que interfere com a própria pessoa, com as que a rodeiam e, em última instância, com o ambiente! No entanto, para que fique clara a minha posição sobre este assunto, não faz sentido esperar que a escola desempenhe bem o seu papel a este nível, se o exemplo não vier de casa. Só trabalhando em equipa, combinando os esforços da comunidade escolar com o meio familiar é que, de facto, se vai conseguir mudar significativamente a forma como as crianças encaram a alimentação!
Para se criar uma verdadeira consciência alimentar é necessário haver um envolvimento dos pais e restantes cuidadores nesse objetivo.
Em breve irei publicar um post com algumas sugestões concretas de medidas que me parece que podiam contribuir para criar uma verdadeira consciência alimentar nos mais novos…