A obesidade infantil tem vindo a ganhar proporções alarmantes! São vários os fatores que podem justificar este cenário, sendo que de uma maneira geral existe uma maior tendência para valorizar os aspetos que ocorrem depois do nascimento. As más escolhas alimentares (em qualidade e em quantidade), o sedentarismo e a exposição a contaminantes são normalmente apontados como os grandes responsáveis pelo aumento descontrolado de casos de obesidade nas crianças. E, se por um lado, não tenho dúvida nenhuma que esses são, de facto, aspetos importantíssimos no aparecimento e desenvolvimento da doença, também me parece redutor pensar que a obesidade infantil é algo que só se começa a desenvolver após o nascimento. Ou, dito de uma forma mais simples, como é óbvio o que acontece durante a gravidez (ou mesmo antes da mesma!) também determina de forma muito significativa o que irá acontecer à criança em etapas futuras.
Quando se fala na relação entre a gravidez e a obesidade infantil, normalmente o maior destaque é dado às alterações de peso que a mãe sofre durante esse período (mais informações sobre esse assunto neste post e neste post). No entanto, apesar desse ser, sem dúvida, um fator muito importante, há outras variáveis que devem ser analisadas, no sentido de garantir não apenas uma gravidez saudável, mas também um desenvolvimento adequado do feto e, após o parto, da criança. A exposição do feto a diferentes ambientes intrauterinos, provenientes de estímulos externos com que a mãe contacta, ou estímulos metabólicos da própria mãe, tem seguramente um impacto importante para o mesmo. Neste contexto, têm vindo a ser efetuados diversos trabalhos de forma a perceber que outras características da mãe é que podem ter influência direta no desenvolvimento dos filhos.
Além do aumento de peso da grávida, há outros fatores com influência direta no desenvolvimento das crianças.
Recetemente foi publicado um artigo na revista científica Pediatric Obesity na qual se procurou perceber se os níveis de alguns lípidos no sangue da mãe durante a gravidez poderiam ter influência no peso dos filhos após 3 anos do nascimento. Verificou-se que níveis elevados de triglicéridos e reduzidos de HDL (o chamado “bom colesterol, mais informações sobre esse assunto neste post) durante a gravidez se associaram a um aumento do índice de massa corporal dos filhos.
Este trabalho vem chamar a atenção para algo que me parece particularmente importante, e para o qual muitas pessoas não estão ainda sensibilizadas. Obviamente que o peso é um fator importante, e a evolução do mesmo deve ser alvo de uma monitorização continuada durante a gravidez. No entanto, há muitas outras variáveis que não podem ser esquecidas. De acordo com os resultados descritos em cima, mesmo que a evolução do peso seja considerada adequada, se houver algum descontrolo metabólico podem surgir consequências evidentes para a criança. Mais ainda, estes efeitos não têm que ser sentidos logo na altura do nascimento, pois o excesso de peso/obesidade foi avaliado em crianças com 3 anos! Este é mais um fator que justifica a necessidade de haver um acompanhamento adequado das grávidas por profissionais devidamente qualificados. Afinal, o que está em causa não é “apenas” a saúde da mãe (que é muito importante), mas também do seu filho (que é igualmente importante)…