Com o aumento da esperança média de vida, há muitos desafios que têm vindo a surgir, sendo que, de uma maneira geral, a manutenção de um bom estado de saúde (física e mental) durante a 3ª idade é uma das principais preocupações. De entre os problemas de saúde mais frequentes nessa faixa etária, a perda de capacidades cognitivas e a demência ocupam um lugar de destaque, não apenas pelas consequências para a própria pessoa, mas também para todos os que cuidam da mesma e, porque não, para a sociedade em geral. Como é óbvio, há fatores que não se conseguem controlar e que contribuem para esses cenários, mas não tenho dúvidas que há ainda muito para descobrir sobre a forma como o estilo de vida, e em particular a alimentação, podem influenciar a perda cognitiva no futuro. Neste contexto, há já algumas informações importantes, por exemplo, sobre a relação entre o consumo de açúcares simples e a doença de Alzheimer (mais informações sobre esse assunto neste post).
O consumo de gordura insaturada, e em especial a gordura ómega-3, é outro dos fatores que tem vindo a demonstrar importância na prevenção da demência. Este tipo de gordura é principalmente encontrado em peixes gordos, tais como a sardinha, cavala, salmão, robalo, dourada, entre outros, e desempenha funções muito importantes ao nível do cérebro. Devido a isso não é de estranhar que haja estudos nos quais se observa que o consumo regular deste tipo de gordura possa provocar uma redução de até 33% no risco de aparecimento da doença de Alzheimer. No entanto, apesar destes resultados promissores, há ainda muitas dúvidas acerca do real contributo da gordura ómega-3 na manutenção das funções cognitivas.
O consumo de gordura insaturada ómega-3 tem vindo a ser associado a uma melhor capacidade de manutenção das funções cognitivas.
Recentemente foi publicado um artigo na revista The Journal of Nutrition, no qual se procurou perceber se o efeito benéfico da gordura ómega-3 ao nível da prevenção da demência poderia estar relacionado com os níveis de consumo de antioxidantes. Os resultados obtidos sugerem que para se verificarem efeitos benéficos na manutenção das capacidades cognitivas, é necessário haver um nível adequado de antioxidantes.
Estes resultados são muito interessantes! Em primeiro lugar, porque demonstram algo que me parece fundamental, que é o facto de em parte podermos prevenir determinados problemas que surgem em idade mais avançada, bastando para isso comermos melhor durante a nossa vida. Em segundo lugar, porque revelam toda a complexidade que rodeia a nossa alimentação, pois apesar de a gordura ómega-3 ser benéfica, estes efeitos parecem ser fortemente influenciados pelos níveis de antioxidantes existentes. Ou seja, nesta situação e em muitas outras, para se tirar partido de todos os potenciais benefícios de determinados nutrimentos/compostos bioativos, é fundamental ter-se níveis adequados de outros. Esta interação entre nutrimentos, esta necessidade de ter uma visão alargada sobre a nossa alimentação é um enorme desafio para qualquer nutricionista, mas confesso que é algo que me fascina e me motiva a estar sempre a aprender e a querer saber mais e mais. Garantir um consumo adequado dos diferentes nutrimentos e de outros compostos bioativos é fundamental para se aumentar a probabilidade de se ter um envelhecimento saudável. Equilibrar e variar a alimentação, tendo, sempre que possível, cuidado com o que se come e quanto se come, é uma preocupação que nos deve acompanhar durante toda a vida, pois afinal, é no presente que se escreve o futuro…
O consumo de gordura ómega-3 parece ter efeitos protetores contra a perda de funções cognitivas, mas estes efeitos dependem dos níveis de antioxidantes de cada pessoa.