Quando se pensa num padrão alimentar saudável, é frequente dar-me muita importância ao que se come nas ditas “refeições principais”: pequeno-almoço, almoço e jantar. A prova disso mesmo é que elas são chamadas de “principais”. No entanto, na minha opinião essa forma de as tratarmos deve apenas refletir a quantidade de comida que é ingerida nas mesmas, e não a sua importância para o dia alimentar. E porque é que eu digo isto? Porque uma alimentação saudável requer uma harmonia adequada entre tudo o que se come durante o dia. Por exemplo, não faz sentido eu consumir um almoço muito equilibrado e nutritivo, se depois a meio da tarde for comer um folhado misto e beber um refrigerante… Ou seja, estas refeições mais pequenas, ou se quiserem, os snacks que se comem entre refeições podem ter um peso enorme no balanço de tudo o que se ingere durante o dia.
O consumo de snacks é particularmente frequente nas crianças. E neste caso o seu impacto pode ser bem mais significativo do que nos adultos, devido a vários fatores. Em primeiro lugar, porque tradicionalmente as necessidades energéticas de uma criança são menores do que as da maior parte dos adultos, e por isso os snacks podem fazer mais estragos no dia-a-dia alimentar dos mais novos. Em segundo lugar, porque o consumo de snacks pode comprometer a ingestão alimentar seguinte, criando por vezes desequilíbrios difíceis recuperar ao longo do dia. Por outro lado, para a maior parte das crianças também me parece fundamental a ingestão de pequenas quantidades de comida entre as “refeições principais”, de forma a evitar que as mesmas fiquem demasiado tempo sem comer (esta situação é particularmente evidente durante a tarde). Sabe-se que atualmente os snacks que as crianças consomem são maioritariamente ricos em açúcar, gordura e/ou sal, e que tendem a ser pouco interessantes do ponto de vista nutricional. Devido a isso, tem vindo a ser estudada a relação que existe entre o consumo de snacks em crianças e o aparecimento de várias possíveis consequências negativas nas mesmas.
O consumo de alimentos entre refeições é um aspeto particularmente importante quando se tenta estabelecer um dia-a-dia alimentar equilibrado e saudável.
Recentemente foi publicado um artigo na revista Obesity no qual se procurou perceber qual a relação entre o consumo de snacks em crianças com 1-5 anos e o peso das mesmas. Os resultados revelaram que, de uma maneira geral, a frequência de consumo de snacks parece ser um importante determinante do peso, principalmente em idades mais baixas (menos de 2 anos). Mais concretamente, as crianças que consumiam mais frequentemente snacks tinham tendência a ter excesso de peso ou obesidade.
Estes resultados são muito interessantes, pois revelam algo para o qual os pais/cuidadores não estão normalmente muito alerta. Qualquer alimento ingerido durante o dia tem potencial para interferir não apenas com esse dia alimentar, mas pode também desregular rotinas, alterando a forma de encarar a alimentação e, consequentemente, pode ter um efeito significativo na composição corporal da criança. É fundamental que as pessoas percebam que as crianças não devem comer tudo, só porque gostam. É fundamental haver regras (com alguma dose de flexibilidade, claro), pois é na idade pediátrica que se cria uma consciência alimentar adequada, de forma a garantir um futuro a curto, médio e longo prazo muito mais equilibrado e saudável. Não tenho dúvidas que a qualidade, a altura de consumo e a quantidade dos snacks consumidos são uma parte muito importante na criação dessa consciência…
Crianças que consomem snacks com mais frequência têm um maior risco de apresentar excesso de peso ou obesidade.