A análise da composição corporal de uma pessoa é algo complexo. São muitos os fatores que fazem com que a quantidade de gordura corporal e de massa muscular seja muito variável. Pensando apenas na questão da gordura corporal, apesar de existirem muitas variáveis que podem contribuir para que uma pessoa apresente um excesso da mesma, em última instância a regra final é sempre a mesma: se se consumir mais calorias do que se gasta, acumula-se massa gorda, se se consumir menos calorias, gasta-se massa gorda. Portanto, quando alguém tem como objetivo emagrecer, parece-me inevitável que haja mudanças na alimentação. Mas para a perda de peso ser mais acentuada e, acima de tudo, mais sustentável, há uma segunda mudança que deve ser feita, que passa por aumentar a atividade física. E a ideia é simples de perceber… com as mudanças na alimentação passa-se a consumir menos calorias, e com as mudanças na atividade física passa-se a gastar mais calorias. Ou seja, o desequilíbrio entre o que se consome e o que se gasta fica mais acentuado e, consequentemente, o emagrecimento fica favorecido!
Além do défice de calorias provocado, há outro aspeto que me parece particularmente importante. Ao combinar a restrição calórica com o exercício físico vai haver simultaneamente uma diminuição da massa gorda e uma maior manutenção/aumento da massa magra, sendo que esta situação faz com que o corpo dessa pessoa gaste mais calorias, pois o tecido muscular é metabolicamente mais ativo do que o tecido adiposo. E é aqui que entra a sustentabilidade da perda do peso, pois naturalmente que se uma pessoa gastar mais calorias por dia, vai ter menos dificuldade em manter um peso mais baixo… Como se isso não bastasse, há ainda uma terceira relação entre o exercício físico e a alimentação, que tem vindo a ganhar destaque nos últimos tempos. Estou a falar do impacto que a atividade física pode ter no controlo do apetite.
A atividade física contribui para um maior gasto de calorias, bem como para uma manutenção/ganho da massa muscular. Ambas as consequências contribuem para uma diminuição da quantidade de gordura corporal.
Recentemente foi publicado um artigo na revista Obesity no qual foi analisado o impacto que a atividade física tem ao nível da vontade de ingerir alimentos caloricamente densos (alimentos com muitas calorias). Globalmente foi observado que a prática de exercício físico moderado causou uma diminuição da resposta cerebral a alimentos muito calóricos, após a ingestão de glucose (açúcar simples). Por outro lado, pessoas com um estilo de vida mais sedentário revelaram um comportamento oposto.
Este estudo revela dados muito interessantes sobre a forma como podemos controlar o nosso apetite. E em última instância este pode ser um dos fatores críticos para se conseguir ter uma alimentação saudável e adequada às nossas características. Além de todos os potenciais benefícios diretos que a atividade física pode ter ao nível da composição corporal (desde que adequada às características individuais de cada um, obviamente), parece ser também um importante regulador do apetite, nomeadamente ao nível dos alimentos caloricamente densos que são “só” a principal causa de incumprimento de um plano alimentar (ninguém compromete o sucesso de uma intervenção de perda de peso se comer uma dose de sopa maior, mas se em vez da dose de sopa falarmos de folhados, chocolate, enchidos ou outros alimentos gordos, as consequências podem não ser tão “inofensivas”). Os mecanismos através dos quais a atividade física regula o apetite estão longe de estar compreendidos havendo várias hipóteses em estudo. Independentemente de qual a forma como o apetite é afetado, uma coisa é certa, se o seu objetivo for perder peso, aposte numa mudança na alimentação e, simultaneamente, um aumento na sua atividade física, pois dessa forma não tenho grandes dúvidas que irá conseguir atingir mais facilmente os seus objetivos.
A atividade física parece estar relacionada com a regulação do apetite, nomeadamente ao nível do consumo de alimentos muito calóricos.