A guerra dos sexos e as compulsões alimentares…

A alimentação é um assunto muito complexo! Além de nos fornecerem energia, nutrimentos e compostos bioativos, os alimentos estão intimamente relacionados com a individualidade de cada um. Ou seja, interferem não apenas com a nossa parte física, mas também com a parte psicológica. Todos nós temos alimentos que associamos a diferentes etapas da nossa vida, e que nos trazem à memória momentos bons (ou menos bons) que fazem parte do nosso passado. Além disso, há alimentos que nos confortam quando estamos mais tristes, mais stressados, ou mais ansiosos. Resumindo, a frase “somos o que comemos” não podia estar mais acertada, nas múltiplas dimensões que engloba!

Quando se faz a comparação entre homens e mulheres, a forma diferente como encaram a alimentação é evidente. De uma maneira geral as mulheres têm uma ligação emocional mais forte com a alimentação, e são vários os argumentos que podem ser usados para provar isso mesmo: a maior parte dos leitores deste blog (e de outros sobre alimentação) são do sexo feminino, a maior parte das pessoas que me procura enquanto nutricionista é do sexo feminino, na maior parte das casas quem cozinha mais vezes é a mulher, … Por outro lado, também se sabe que a maior parte dos distúrbios alimentares ocorre no sexo feminino (por exemplo, a anorexia e a bulimia são muito mais frequentes em mulheres do que em homens). Além disso, culturalmente o excesso de peso é encarado com “normalidade” nos homens, mas nas mulheres é visto como algo que não deveria ocorrer. Ou seja, com base em tudo o que acabei de referir, é óbvio que as diferenças entre sexo feminino e masculino se refletem também na alimentação. Uma vez que a alimentação permite saciar necessidades básicas, mas simultaneamente também pode ser uma fonte de prazer, é de prever que a necessidade de comer algo para lá daquilo que precisamos fisicamente possa surgir de forma diferente entre homens e mulheres.

A ligação das mulheres com a alimentação é muito mais emocional do que a dos homens, o que significa que a forma como ambos os sexos encaram diferentes alimentos é diferente.

Recentemente foi publicado um artigo na revista Obesity que procurou avaliar se existem diferenças entre o sexo feminino e masculina na resposta a alimentos que dão prazer, no estado alimentado e no estado de jejum. Os resultados obtidos revelaram que no estado alimentado não existiram diferenças entre ambos os sexos. No entanto, quando em jejum, as mulheres demonstraram uma maior estimulação para o consumo de alimentos que dão prazer.

Este estudo revela dados muito curiosos que ajudam a perceber a complexidade de variáveis relacionadas com a nossa alimentação. A forma como se encaram os alimentos, e as compulsões alimentares dependem de muitas variáveis, sendo que, de acordo com este estudo, são também fortemente influenciadas pelo sexo, e pelas características cerebrais associadas ao mesmo. Já tive oportunidade de referir várias vezes aqui no blog que a contagem de calorias é um aspeto importante quando o objetivo é alterar o peso ou manter o peso estável, mas isso apenas não basta. Numa consulta de nutrição é igualmente importante perceber qual a relação que a pessoa tem com a comida, e com alguns alimentos em particular. As fórmulas utilizadas para calcular quantas calorias é que cada pessoa gasta entram em consideração com algumas diferenças entre o sexo feminino e masculino, mas não nesta vertente mais psicológica/emocional. Sou um defensor de que não existem planos universais que possam ter os mesmos resultados em todas as pessoas, acredito que há particularidades de cada um que podem ser determinantes no sucesso de uma intervenção nutricional. Se é fácil identificar e manipular essas particularidades? Claro que não, e por isso é que o mundo da nutrição é tão desafiante mas ao mesmo tempo tão fascinante…

Quando em jejum, as mulheres apresentam uma maior propensão para o consumo de alimentos associado ao prazer, e não devido a necessidades física.