O consumo de adoçantes está longe de ser um assunto consensual. Por muito que se diga ou escreva sobre o mesmo, a realidade é que a segurança ou riscos associados aos adoçantes estão ainda muito longe de serem conhecidos com detalhe. Já o disse anteriormente, e volto a referir que pessoalmente não tenho nada contra os adoçantes, mas também não sou um defensor dos mesmos, por falta de estudos que avaliem as possíveis consequências do seu consumo a médio/longo prazo (mais informações sobre os adoçantes neste post). Há contextos nos quais me parecem interessantes, e contextos nos quais me parecem uma escolha menos adequada. Uma coisa é certa, não há nada que se coma que não tenha algum tipo de influência (positiva ou negativa) no nosso corpo, e com os adoçantes passa-se exatamente o mesmo.
E se esta questão, por si só, já me parece um assunto bastante interessante de analisar e discutir, torna-se particularmente delicado no contexto da gravidez e da amamentação. A gravidez é um período fantástico na vida de um casal, e da mulher em particular. Com todos os altos e baixos que normalmente lhe estão associados, a gravidez é um período de mudanças constantes, não só do ponto de vista físico mas também emocional. Obviamente que a alimentação é um fator muitíssimo importante no contexto da gravidez (mais informações sobre o assunto neste post). Mas o período no qual a mãe está a amamentar não é menos importante. São vários os estudos que têm vindo a estudar o efeito do consumo de adoçantes durante a lactação. E há cada vez mais evidências que sugerem que alguns dos adoçantes mais utilizados atualmente podem aparecer em quantidades significativas no leite materno (mais informações sobre o leite materno neste post). Curiosamente, as recomendações atuais sobre a alimentação durante a amamentação ainda não referem o consumo de adoçantes. Aliás, mesmo durante a gravidez, o único adoçante que é desaconselhado é a sacarina…
O consumo de adoçantes tem vindo a aumentar de forma significativa nos últimos anos. O seu consumo durante a amamentação pode ser um aspeto particularmente importante, uma vez que os mesmos podem aparecer em quantidades significativas no leite materno.
Recentemente foi publicado um estudo na revista científica Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition no qual se analisaram os detalhes associados ao aparecimento de dois adoçantes amplamente consumidos (sucralose e acessulfame-K) no leite materno. Verificou-se que ambos os adoçantes apareceram no leite materno após consumo de refrigerantes light. O aparecimento do acessulfame-K foi quase imediato e permaneceu durante cerca de 4h, enquanto a sucralose surgiu ao fim de cerca de 2h após a ingestão, e permaneceu no leite materno durante cerca de 6h.
Este estudo parece-me muito interessante, não só pelas informações que fornece, mas também pela possibilidade de refletir sobre o assunto… Quando se pensa em limitações alimentares nas mães que estão a amamentar, normalmente as atenções centram-se na cafeína, no picante, e em pouco mais. Mas como é óbvio, tudo, ou quase tudo, o que se come pode influenciar a composição do leite materno (mais informações sobre o consumo de hortícolas e o leite materno neste post). Não há grandes dúvidas de que a maior parte dos adoçantes tem potencial para aparecer no leite materno, e isto dá que pensar. Por exemplo, a microbiota intestinal (mais informações sobre este assunto aqui) é algo que se começa a desenvolver após o nascimento, e que sofre grandes influências do meio externo durante os primeiros tempos de vida. Será que o consumo de adoçantes, através do leite materno, não poderá ter influência ao nível da mesma? Outro aspeto que me parece importante referir, é que de uma maneira geral o leite materno é pouco doce, pois o único açúcar presente é a lactose, que tem pouco poder adoçante. A presença de adoçantes no leite materno vai alterar o sabor do mesmo. Sabe-se que as preferências alimentares são, em grande medida, adquiridas, pelo que me parece legítimo pensar que o facto de o leite materno se tornar mais doce pode potenciar uma maior preferência pelo sabor doce. E isto pode ter consequências muito importantes no futuro da criança… Por último, não posso terminar sem referir que até prova em contrário não há evidências que relacionem de forma robusta o consumo de adoçantes com consequências negativas para a saúde, mas isso não é o mesmo que dizer que as mesmas não existem. Ou seja, com base no conhecimento atual não tenho nada contra os adoçantes, mas por precaução também não defendo um consumo desregrado desse tipo de substâncias.
A presença de adoçantes no leite materno pode ter várias possíveis consequências, que passam por potenciais alterações na microbiota intestinal, até um aumento da preferência pelo sabor doce.