A alimentação e nutrição é algo que me fascina! Se por um lado tenho plena consciência que uma parte daquilo que somos já está escrita nos nossos genes, também acredito sinceramente que todos nós temos a capacidade de influenciar aquilo que somos, através de tudo o que fazemos. E a alimentação é, muito provavelmente, a forma mais lógica, eficaz e direta de mudar o nosso presente e o nosso futuro. Por tudo isso, nunca antes como agora se deu tanta importância ao que comemos. De facto, a nutrição vive um período fantástico, pois a maior parte das pessoas tem vindo a ganhar consciência que, em grande parte, “nós somos aquilo que comemos”…
Devido a isso, a área da alimentação/nutrição tem vindo a ganhar muito destaque a nível global. E isso é bom, é muito bom. Mas quando algo começa a ganhar protagonismo, há sempre um lado menos bom que se começa a revelar. E com a alimentação passa-se exatamente isso. Começando pelo princípio, a alimentação é uma necessidade básica de todos os seres vivos. Por isso se diz que a alimentação é algo global, pois todos temos que comer. E há muitas formas de comer, que variam no que se come, quanto come, quando se come e com quem se come. Somando tudo, é fácil de perceber que não podem existir regras demasiado rígidas em relação à alimentação. Tem que haver espaço para as diferenças sociais, culturais e pessoais. Obviamente que devem existir regras, mas estas não devem ser castradoras da individualidade de cada um. E é aqui que as célebres dietas da moda entram (pelos piores motivos)…
A alimentação é um assunto que afeta toda a gente. Todos temos que comer para sobreviver, e a comida faz parte do nosso dia-a-dia, devendo ser encarada como um fator que nos ajuda a definir enquanto pessoa diferente de todas as outras.
Se fizer uma pesquisa sobre as dietas da moda que existem, acredito que vai ficar surpreendido com a quantidade (e variedade!) que vai encontrar. Antes de continuar a escrever sobre o assunto, quero deixar bem claro que não me parece correto olhar para as dietas da moda como um conceito facilmente generalizável, pois há muitos tipos diferentes de dietas da moda, e umas são claramente piores do que outras. Além das mais conhecidas, como o jejum intermitente (mais informações sobre este assunto aqui), macrobiótica (mais informações sobre este assunto aqui) ou Paleo (mais informações sobre este assunto aqui), há dietas para todos os gostos e feitios, sendo que algumas são de facto muito criativas (algumas parecem até piada!). Para ter uma ideia, há dietas que se baseiam no tipo de sangue, na alimentação do exército Israelita, na comida de bebé, e até mesmo nos signos (sim, é verdade, infelizmente também existe uma “dieta do zodíaco”). Por um lado podemos-nos questionar sobre o porquê de alguém criar este tipo de padrões alimentares. E a resposta é relativamente fácil de dar, e normalmente baseia-se em vontade de protagonismo pessoal e em eventuais interesses da indústria alimentar. Mas se já é questionável o porquê de alguém inventar estas dietas, mais estranho ainda é perceber porque é que há pessoas que as seguem, e que acreditam nelas. E é neste ponto que a vida dos nutricionistas se torna complicada. De uma maneira geral, a maior parte das pessoas precisa de ter algo diferenciador na alimentação para se sentir motivada. Ou seja, para muitos, mudar a forma de comer ajustando apenas a quantidade e a qualidade do que come não basta, é preciso criar algo de diferente no dia-a-dia alimentar para que a pessoa sinta que vai conseguir atingir os seus objetivos. Por exemplo, se eu prescrever um plano alimentar equilibrado e variado, mas disser que essa pessoa, para perder peso, tem que comer uma maçã reineta às 19:32 enquanto observa o Preço Certo na RTP1, quando o objetivo for atingido, o que vai ficar para a história é que essa pessoa emagreceu por causa da dieta da “Maçã reineta e do Preço Certo”!
Parece-me também importante referir que muitas vezes os seguidores de algumas destas dietas da moda transformam a sua mudança alimentar quase numa obsessão e num motivo de intolerância social. Chegam muitas vezes a comportar-se quase como uma seita religiosa, na qual alguém que pise o risco vermelho que os separa de uma alimentação dita “normal” é quase motivo para um exorcismo, ou então para insultos. Isto simplesmente não faz sentido…
Atualmente existem inúmeras dietas da moda, sendo que a grande maioria não apresenta a mínima validade científica. Muitas vezes são criadas para auto-promoção, mas quem as segue encontra nos seus elementos diferenciadores um fator de motivação extra para atingir os seus objetivos.
Concluindo, comer não é uma moda, é algo que faz parte de nós, e que nos acompanha e evolui ao longo da nossa própria evolução. Transformar a alimentação em algo demasiado rígido ou demasiado restritivo não me parece a melhor opção, nem do ponto de vista nutricional, nem do ponto de vista do bem-estar (físico e acima de tudo psicológico) da pessoa. E se comer não é uma moda, não vá em modas alimentares, e tente sempre guiar-se por um dos grandes pilares da nutrição: bom-senso na hora de escolher o que vai comer!