A obesidade infantil é um gravíssimo problema de saúde pública, que atinge proporções dramáticas na maior parte dos países desenvolvidos. Por exemplo, nos Estados Unidos da América, estima-se que 23% das crianças apresentem excesso de peso ou obesidade. Sim, é verdade, quase uma em cada quatro crianças… E se por um lado penso que é consensual que a obesidade infantil é um problema que pode ter consequências muito negativas no futuro, também me parece claro que apesar de todas as políticas e estratégias que têm vindo a ser adotadas, o problema está longe de estar minimamente controlado. Obviamente que quando se fala em obesidade, o principal fator envolvido será a alimentação, mas nos últimos tempos tem-se começado a dar também destaque a outras variáveis que, à primeira vista, poderão não ser tão óbvias… Estou a falar da exposição a poluentes ambientais, por exemplo. E esta pode ser uma relação bem mais complexa do que parece à primeira vista.
Na realidade, a exposição a poluentes ambientais e algo que ocorre mesmo antes do nascimento, e que é muito difícil de controlar, pois muitas vezes não depende apenas do cuidado da mãe. E isto é especialmente importante no caso dos países mais desenvolvidos, nos quais os níveis de poluição ambiental são mais elevados. Estes são também os países com maior taxa de obesidade infantil, e isto dá que pensar… Como é lógico a poluição não vai ser a origem de todos os problemas, mas não tenho muitas dúvidas que é mais uma variável que pode e deve ser considerada quando se analisa algo tão complexo como a obesidade infantil.
A obesidade infantil é um problema que está longe de estar controlado. Além da alimentação, há outros fatores que podem justificar essa situação, como por exemplo a exposição à poluição.
Recentemente foi publicado um estudo na revista Pediatric Obesity no qual foi investigado se a exposição pré-natal a poluição relacionada com o tráfego de automóveis influenciava o peso das crianças durante os primeiros 6 meses de vida. Foi demonstrado que a exposição à poluição aumentou os níveis de marcadores de obesidade no sangue do cordão umbilical, e, consequentemente, provocou um maior aumento de peso durante os primeiros 6 meses de vida. Curiosamente, estas observações só se verificaram no caso das crianças serem do sexo feminino.
Ora bem, vamos lá começar pelo final. Confesso que o facto de só se ter observado associação entre a exposição à poluição automóvel e o peso das meninas me deixou intrigado. Obviamente que os meninos e as meninas têm muitas diferenças fisiológicas e bioquímicas, mas não estava à espera deste cenário. Apesar da associação observada, os mecanismos envolvidos permanecem por esclarecer e por isso infelizmente para já não se consegue compreender com detalhe as observações que eu referi. Mas uma coisa parece-me certa, a exposição à poluição dos automóveis parece condicionar de forma significativa o desenvolvimento das crianças, pelo menos das meninas. E isto tem que ser valorizado! Atualmente vive-se um período no qual identificar os problemas não chega. É preciso perceber e atuar da forma mais completa possível. Não adianta querer resolver o problema da obesidade mexendo apenas numa variável, enquanto outras continuam sem solução. A exposição à poluição é um problema real que em certa medida pode ser minimizado, haja vontade para isso. O presente das crianças (e dos adultos!) depende também desse fator, e o seu futuro ainda mais…
Sendo a obesidade uma doença multifatorial, deve ser abordada dessa forma. Obviamente que a alimentação deve merecer grande parte das atenções, mas há outros fatores menos óbvios para os quais também se deve estar atento. A exposição ao fumo dos carros durante a gravidez é um bom exemplo disso mesmo.