A obesidade é uma doença crónica que pode ser explicada de várias formas… Pode estar relacionada com um consumo excessivo de comida, com um estilo de vida demasiado sedentário, com a genética (quem é que nunca ouviu dizer “já a minha mãe ou o meu pai eram assim…”?), com problemas hormonais (por exemplo, ao nível do funcionamento da tiróide), com medicação, com problemas emocionais, etc. Obviamente que ninguém tem excesso de peso se não consumir mais calorias do que as que gasta, mas acredito sinceramente que esta visão matemática é demasiado redutora para a complexidade da obesidade. A sua prevenção e tratamento está longe de ser uma tarefa fácil, pelo menos com base no conhecimento atual, por isso é que quem consegue atingir os seus objetivos ao nível da composição corporal deve sentir-se muito orgulhoso!
Um assunto que parece ser bastante importante para a compreensão da obesidade é a microbiota intestinal (mais informações sobre este assunto aqui). Na realidade, o complexo ecossistema de bactérias e leveduras que vive no nosso intestino parece influenciar muitas das nossas características, nomeadamente o peso. Existem vários estudos que relacionam a obesidade com desequilíbrios na microbiota intestinal (também chamados de disbiose). Por exemplo, sabe-se que na microbiota de pessoas obesas há uma maior quantidade de umas bactérias chamadas Firmicutes e uma diminuição de outras chamadas Bacteroidetes. Esta e outras alterações que ocorrem na microbiota intestinal em pessoas com obesidade podem potenciar o aparecimento de bactérias perigosas oportunistas, e, consequentemente, aumentar o risco de outras complicações de saúde.
A obesidade é uma doença complexa que está relacionada com muitos fatores. Um desses fatores é a composição da microbiota intestinal.
Recentemente foi publicado na revista Obesity um estudo que procurou perceber melhor de que forma a composição da microbiota intestinal pode estar associada a diferentes marcadores metabólicos da obesidade. Neste estudo os participantes foram divididos em 3 grupos (peso saudável, excesso de peso e obesidade). Foram observadas diferenças significativas na composição da microbiota dos 3 grupos. Mais concretamente, foram identificadas algumas bactérias que parecem estar especificamente associadas aos grupos de excesso de peso e obesidade. Portanto, tal como já tive oportunidade de escrever anteriormente, a nossa microbiota intestinal parece estar diretamente relacionada com a nossa identidade bioquímica, ou seja, parece influenciar muitas das nossas características biológicas. Este tipo de trabalhos são fundamentais para se começar a perceber melhor de que forma é que essa relação se estabelece, ainda que a nossa capacidade de compreender essa informação e utilizá-la de forma prática esteja longe de ser a ideal. Costumo dizer muitas vezes que a microbiota intestinal não é a solução para todos os problemas, mas não tenho dúvidas que é importante em muitos contextos, o que significa que precisamos de mudar um pouco o foco da nossa alimentação e das rotinas alimentares, de forma a ir de encontro não apenas às necessidades das nossas células, mas também das necessidades da microbiota intestinal.
Além de estar relacionada com a composição corporal, a microbiota intestinal parece estar envolvida em muitas outras características, nomeadamente ao nível do risco de aparecimento de várias doenças. Manter um equilíbrio saudável nos microorganismos intestinais é algo indispensável para a manutenção da saúde.
É, por isso, fundamental perceber de que forma é que podemos manter um equilíbrio saudável da microbiota intestinal, e acredite que esta situação é bem mais difícil do que parece, pois todos os dias são diferentes, o que significa que todos os dias a própria microbiota se altera. Ou seja, não basta dizer apenas para consumir probióticos e prebióticos, é preciso ir-se muito para lá desse tipo de informação genérica e adaptar a nossa alimentação ao contexto de cada dia. Será que qualquer probiótico é igualmente eficaz em qualquer contexto? Será que qualquer prebiótico tem o mesmo efeito independentemente das circunstâncias do momento? Será que a periodicidade de consumo e a quantidade de probióticos e prebióticos é relevante? Se sim, como é que deve ser ajustada? Estas (e muitas outras perguntas) precisam de resposta, pois só assim iremos conseguir tirar partido de todo o potencial que a microbiota intestinal nos pode dar. Acredito que teoricamente é isto que deve ser feito, ainda que tenha a perfeita consciência que na prática estamos a anos-luz de o conseguirmos…