Grávidas, crianças e adolescentes

Especial REGRESSO ÀS AULAS: O papel dos pais na criação de hábitos alimentares saudáveis

O excesso de peso e a obesidade são problemas de saúde pública que, infelizmente, são transversais a todas as idades, incluindo as crianças. E é exatamente ao nível das crianças que, na minha opinião, o problema se torna mais grave, não apenas porque condiciona diretamente o futuro dessa criança, mas também porque é um problema que, quer se queira ou não, tem alguma responsabilidade direta daqueles que mais deveriam zelar pela saúde das mesmas: os cuidadores (normalmente os pais). Obviamente que com isto não quero de maneira nenhuma dizer que os pais de uma criança obesa são maus pais, ou que deixaram a criança ficar obesa porque queriam que algo de mal lhe acontecesse, mas não vale a pena negar alguma responsabilidade nessa situação. E a responsabilidade pode traduzir-se por frases como “Coitadinho, ele gosta tanto…”, ou “Ele tem tempo para emagrecer quando for mais velho!”, entre tantas outras.
De uma maneira simples, o excesso de peso baseia-se numa ingestão de mais calorias do que aquelas que se gasta, sendo que, no caso das crianças, essa ingestão exagerada é bem mais fácil de atingir, pois como são mais pequenas, precisam de menos energia para manter as suas atividades diárias. E mesmo que o seu filho coma pouco em cada refeição, normalmente o problema está entre refeições, nos célebres snacks que vai comendo durante o dia, pois na maior parte das vezes trata-se de alimentos com muitas calorias (e muitos outros problemas nutricionais que não vou destacar agora…). Estou a falar de chocolates, bolachas, batatas fritas, bolos, refrigerantes, etc. E é exatamente aqui que os pais mais devem intervir! Escolher melhores opções para os snacks dos filhos não deve ser encarado como um conselho para os pais, mas sim como um dever que todos os pais têm. Claro que com isto não quero dizer que as crianças não devem comer os alimentos que referi em cima, mas sim que esses alimentos devem ser consumidos apenas raramente, e que na maior parte das vezes os mesmos devem ser substituídos por alimentos mais saudáveis (iogurtes, fruta, pão, entre outros). Na realidade, a literatura científica mais recente aconselha os pais a promoverem hábitos alimentares saudáveis através do estabelecimento de um equilíbrio entre as opções saudáveis e menos saudáveis, e de limites razoáveis para as restrições alimentares propostas e para as preferências alimentares das crianças.
Recentemente foi publicado um artigo na revista International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity no qual foi analisada a influência dos pais nos hábitos alimentares dos filhos, mais concretamente, ao nível dos snacks consumidos. Genericamente foi observado que uma atitude demasiado restritiva e a presença de alimentos pouco saudáveis em casa são determinantes muito importantes para que as crianças tenham escolhas menos corretas como snacks.
Concluindo, é inegável que o papel de um pai ou de uma mãe se baseia essencialmente, na criação de condições para que os seus filhos cresçam saudáveis e felizes. Promover hábitos alimentares saudáveis, em vez de os impor é uma obrigação dos pais, e não vale a pena alegar o contrário. Para isso, é fundamental criar um equilíbrio entre aquilo que deve ser mais frequente (consumo de alimentos mais saudáveis) e aquilo que deve ocorrer apenas esporadicamente (consumo de alimentos menos saudáveis). Se é uma tarefa fácil? Claro que não, mas ter uma criança ao nosso cuidado é a tarefa de maior responsabilidade que alguém pode assumir, e deve ser assumida exatamente dessa forma

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