Nutrição geral

Ingestão de hidratos de carbono e risco de fraturas ósseas… será que existe alguma relação entre ambos?

A osteoporose é uma doença caracterizada por um enfraquecimento da estrutura do osso. Trata-se de uma doença que afeta muitas pessoas, principalmente a população mais idosa, e que pode ter consequências muito negativas para a saúde e que comprometem de forma significativa a qualidade de vida. De facto, como as pessoas que infelizmente sofrem de osteoporose apresentam ossos mais frágeis, têm um maior risco de sofrer fraturas. E se por um lado, fatores como a idade ou a entrada na menopausa aumentam significativamente a probabilidade de se vir a sofrer desta doença, há também outros fatores que parecem influenciar de forma significativa a mesma. Um desses fatores é a alimentação! Mas a relação entre a alimentação e a osteoporose está longe de ser compreendida, pelo menos de forma mais detalhada. Fala-se muito da ingestão de cálcio e de vitamina D como principais fatores alimentares relacionados com a saúde do osso, e não tenho muitas dúvidas que, de facto, são fatores importantes. Mas tentar limitar o papel da alimentação apenas a esses dois nutrientes parece-me demasiado redutor…
Há vários estudos que relacionam a presença de várias doenças com um aumento do risco de osteoporose, nomeadamente a diabetes tipo 2 (mais informações sobre a diabetes aqui). Um fator alimentar importante quando se aborda a diabetes é quantidade e qualidade dos hidratos de carbono que se ingere. Tem que haver um controlo rigoroso das quantidades ingeridas (atenção que eu falo em controlo, e não em ausência de ingestão!!!), e, acima de tudo, deve procurar-se ingerir açúcares com uma digestão e absorção intestinal mais lenta. Porquê? A resposta é simples… porque os diabéticos devem evitar ter picos de açúcar no sangue, e por isso, ao optarem por hidratos de carbono de digestão mais lenta vão garantir que o mesmo não aparece todo ao mesmo tempo na corrente sanguínea. Sendo o açúcar um fator tão importante para a diabetes que, por sua vez, parece ter algum tipo de relação com a osteoporose, será que os hidratos de carbono ingeridos podem ser importantes para esta última?
Recentemente foi publicado um estudo na revista American Journal of Clinical Nutrition que procurou perceber se a quantidade e qualidade dos hidratos de carbono ingeridos estava relacionada com um aumento do risco de fraturas ósseas em pessoas com diabetes tipo 2. O resultado indicou que o aumento da quantidade de hidratos de carbono ingeridos, bem como o consumo de hidratos de carbono de digestão mais rápida aumentou de forma significativa o risco de fraturas.
Os resultados obtidos parecem-me muito relevantes, pois permitem ter uma visão mais abrangente acerca da relação entre a alimentação e o metabolismo do osso, fugindo dos tradicionais cálcio e vitamina D. É óbvio que tudo, ou quase tudo, o que é consumido pode afetar positivamente ou negativamente o funcionamento dos diferentes órgãos, mas nem sempre é fácil perceber de que forma é que esses efeitos podem surgir. Estes resultados vêm demonstrar que o consumo de hidratos de carbono pode ser um fator importante para a saúde e integridade dos ossos. Apesar de o estudo ter envolvido apenas pessoas com diabetes tipo 2, será que em pessoas saudáveis esses efeitos também se verificam? Sabe-se igualmente que em grande parte o futuro dos ossos é definido durante a infância e adolescência, pelo que, a haver um efeito direto dos hidratos de carbono no risco de osteoporose, será que a idade pediátrica é o contexto ideal para se intervir a esse nível? Obviamente que com este post não quero “diabolizar” os hidratos de carbono, pois tenho noção de que infelizmente para muita gente eles são a origem de todos, ou quase todos, os problemas. Os hidratos de carbono são uma classe de macronutrientes fundamental, mas isso não significa que não devam existir regras no seu consumo. Saber quais as quantidades, quais os tipos de hidratos de carbono mais adequados, e quais as combinações com outros nutrientes podem ser aspetos fundamentais para uma melhor preservação da saúde dos ossos e, consequentemente, garantir que o seu envelhecimento vai ser mais saudável!

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