Nutrição geral

Os microorganismos intestinais adaptam-se ao nosso padrão alimentar!

Os intestinos são um órgão indispensável para o nosso corpo! Não me refiro apenas às suas funções mais óbvias, que passam pela absorção dos nutrientes que ingerimos diariamente, ou pela eliminação dos resíduos alimentares através das fezes. Não é que essas funções não sejam importantes, mas na realidade há muito mais a dizer acerca dos intestinos… Os intestinos são habitados por milhões de seres minúsculos, que vivem em comunidade no seu interior. Não se preocupe que não estou a falar em parasitas, nem em nenhum tipo de ficção científica, estou a falar de bactérias e fungos, ou seja, da microbiota intestinal (pode ler mais sobre o assunto aqui).
A composição da microbiota intestinal tem sido relacionada com o desenvolvimento de várias doenças, pelo que tem havido um interesse crescente em perceber de que forma é que é possível alterar a mesma de forma a promover a saúde. Como é óbvio, a alimentação tem potencial para ser a forma mais direta e eficaz de alterar a composição da microbiota. De entre os diferentes componentes dos alimentos, há um que se destaca a este nível, a fibra, mais concretamente, a fibra solúvel. Ou seja, estou a falar dos pré-bióticos… Além da alimentação, outro fator que parece ter uma influência direta na microbiota intestinal é o ritmo circadiano, ou dito de forma mais simples, as rotinas biológicas que o nosso corpo cria. E esta ideia é simplesmente fascinante, pois dá uma dimensão mais dinâmica à nossa microbiota. Resumindo, o nosso padrão alimentar, e a altura do dia parecem fazer com que a microbiota intestinal se vá alterando e adaptando continuamente. Estes dois fatores que, à primeira vista, parecem não estar relacionados, podem, na realidade, estar relacionados, através das rotinas alimentares. Portanto, para microbiota intestinal os períodos de jejum e os períodos de alimentação parecem ser importantes.
Recentemente foi publicado um artigo no qual foi investigada a relação que existe entre a microbiota intestinal e o padrão alimentar, no sentido de perceber não só se a composição da microbiota era influenciada por este, mas também se as moléculas produzidas no intestino variavam consoante a periodicidade de refeições ao longo do dia. Foi observado que houve uma influência clara do padrão alimentar nos parâmetros analisados. Curiosamente, a produção de ácidos gordos de cadeia curta, que são substâncias com muitos potenciais benefícios para o corpo humano, foi também significativamente alterada.
Na minha opinião a microbiota intestinal vai ser uma das grandes áreas de estudo e de intervenção dos nutricionistas. De repente a alimentação parece ganhar uma nova dimensão, pois é fundamental nutrir as nossas células, mas também as nossas bactérias e essa é uma área muito interessante. Quando falo em alimentação, como é óbvio não me refiro apenas ao que se come, mas também a quanto se come, como se combinam os alimentos, e aos intervalos entre refeições. Para já o nosso conhecimento é ainda bastante escasso a este nível, mas não tenho grandes dúvidas que um dia, quando se souber interligar todos estes fatores, conseguiremos ter uma alimentação muito mais adequada às verdadeiras necessidades de cada um. E se por um lado “nós somos o que comemos”, também é verdade que “nós somos o que a nossa microbiota come”… 😉

 

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