Nós somos o que comemos! Quantas vezes já ouviu esta frase? E quantas vezes já a disse? E, já agora, quantas vezes é que pensou nesta frase e tentou modificar algo na sua alimentação? E não, não estou a falar em, num momento específico, abdicar de um determinado alimento que sabe que é potencialmente perigoso para a sua saúde. Estou a falar em mudar atitudes, hábitos, padrões alimentares… Atenção que estas mudanças não têm que ser radicais, e, por isso, mais difíceis de manter. Por exemplo, se uma pessoa que bebe 5 refrigerantes por semana passar a beber apenas 2, já está a contribuir de forma significativa para melhorar o seu padrão alimentar (claro que o ideal seria não beber regularmente refrigerantes…). Existem por isso diversas oportunidades para tentarmos ser mais saudáveis e isso tem obviamente consequências no presente mas, acima de tudo, terá consequências no futuro, pois muito do que acontece durante o envelhecimento é uma consequência das escolhas alimentares (certas ou erradas) que fizemos quando éramos mais novos.
Duas consequências frequentes do excesso de peso são a acumulação de gordura visceral e a acumulação de gordura no fígado (aquilo a que vulgarmente se chama de “fígado gordo”). Estas duas consequências estão vulgarmente associadas a vários riscos para a saúde. Estou a falar em aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes, doenças crónicas e, até, vários tipos de cancro. Claro que quando se fala em acumulação de gordura visceral ou hepática, normalmente as pessoas pensam numa ingestão de calorias em excesso. O que se tem vindo a descobrir de forma mais clara é que os aspetos não calóricos da nossa alimentação, tais como a ingestão de fibras, cálcio, etc., bem como os padrões alimentares, também parecem contribuir de forma determinante para essa acumulação de gordura.
Recentemente foi publicado um estudo muito interessante no qual foi avaliado o impacto que 4 padrões alimentares diferentes (que se incluem nos chamados padrões saudáveis) têm ao nível da acumulação de gordura visceral e hepática. Os padrões alimentares estudados foram o Padrão Alimentar Saudável (padrão HEI), o Padrão Alimentar Saudável Alternativo (padrão AHEI), o Padrão Alimentar Mediterrânico (aMED) e o Padrão de Redução da Hipertensão (padrão DASH). Neste estudo participaram quase 2000 indivíduos de ambos os sexos. Verificou-se que qualquer um deles promoveu uma diminuição da gordura visceral e hepática, a médio prazo, ou seja, ficou demonstrado que a alimentação tem impacto direto nessas características, e que esse impacto se traduz em mudanças significativas durante o envelhecimento.
Portanto, sendo a nossa vida um processo contínuo, no qual vão ocorrendo alterações graduais, temos que ter a noção de que a alimentação não só tem que acompanhar essa evolução como também influencia a mesma. Estar atento à qualidade da alimentação, e não só à quantidade da alimentação é, por isso, obrigatório para quem quer preservar a sua saúde. E não se esqueça que as nossas opções alimentares têm impacto na saúde não só a curto prazo mas também a médio e a longo prazo!