Apesar de a obesidade ser uma doença que está longe de ser compreendida, com base no conhecimento atual, uma coisa parece ser óbvia: um balanço de energia positivo, ou seja, um consumo de mais calorias do que aquelas que se gasta, é um fator chave para o desenvolvimento dessa doença. No entanto, conforme tem vindo a ser destacado nos últimos anos, cada vez de forma mais significativa, há calorias e calorias, e transformar a nutrição num mero exercício matemático parece-me demasiado redutor. Há que ter em atenção a composição dos alimentos, as suas interações, o estado metabólico, físico e mental da pessoa, e muitos mais fatores. Mas voltando à parte energética, simplificando ao máximo a perda de peso, basicamente pode reduzir-se a duas estratégias, que podem ser utilizadas em combinação ou isoladamente: ou se ingere menos calorias, ou se gasta mais. Dito por outras palavras, ou se come menos, ou se faz mais exercício físico (ou ambos!). E se isto parece relativamente fácil de compreender, não nos podemos esquecer que existem pessoas com várias intolerâncias alimentares e/ou problemas físicos que limitam a prática de exercício, pelo que o desenvolvimento de outras estratégias, é fundamental.
Uma dessas estratégias pode passar pelo consumo aumentado de proteína, uma vez que este permite preservar a massa magra mesmo num contexto de restrição alimentar. Além disso, o efeito termogénico da proteína contribui para um gasto energético maior. Claro que esta estratégia não pode ser generalizada, pois existem situações, como é o caso de várias doenças dos rins, onde a ingestão de proteína deve ser muito baixa. De qualquer das formas, quando o objetivo é aumentar a ingestão proteica, há um conjunto de alimentos que, na minha opinião, devem ser uma das principais opções. Estou a falar do leite e derivados! Há muitos estudos que relacionam o consumo de laticínios com a redução do risco de desenvolvimento de obesidade, seja em crianças, seja em adultos.
Recentemente foi publicado um trabalho de investigação muito interessante, no qual foram analisados os efeitos individuais e combinados do consumo de laticínios e do exercício físico na redução de peso e acumulação de gordura em ratos de laboratório. Globalmente foi observado que o consumo de leite e derivados durante 6 semanas diminuiu o ganho de peso associado ao consumo de uma alimentação rica em gordura e açúcar. O mais curioso é que este efeito foi semelhante ao observado com a prática de exercício físico. Quando ambas as estratégias foram combinadas, o efeito foi ainda mais significativo. Foi proposto que apesar de quantitativamente os efeitos do consumo de laticínios e do exercício físico terem sido semelhantes, os mecanismos de atuação envolvidos eram diferentes. No caso dos laticínios, os investigadores propuseram que o efeito se deveu, essencialmente, a uma diminuição da absorção intestinal das gorduras que os ratos ingeriram (e, eventualmente, a alterações na microbiota intestinal?). No caso do exercício, o seu efeito deveu-se essencialmente a um aumento do gasto energético dos ratos.
Quem me conhece sabe que apesar de todas as controvérsias, eu sou um defensor dos produtos lácteos. Até prova em contrário, que, atualmente não existe, o leite e derivados são alimentos fantásticos, com uma riqueza nutricional incrível. Além disso tendem a ser produtos relativamente baratos (quantos alimentos têm a riqueza nutricional do leite e custam o mesmo?), e muito versáteis. As campanhas anti-laticínios ganharam bastante relevância nos últimos anos mas, felizmente, parecem estar a esmorecer. Consumir leite e derivados é uma opção de cada um, e assim como se deve respeitar a opção de quem não os quer consumir, também não há motivo nenhum para pensar o contrário de quem os consome. Da minha parte, irei continuar a aconselhá-los, exceto nos casos em que, devido a intolerâncias alimentares ou outra condição de saúde qualquer, o seu consumo não seja o mais indicado. Para terminar queria só deixar claro que é preciso cuidado com os produtos lácteos, pois vários deles têm grandes quantidades de açúcar e gordura. É preciso saber escolher os mais adequados a cada situação…