Atualmente é cada vez mais vulgar as pessoas terem alterações na quantidade dos diferentes lípidos (gordura) na corrente sanguínea. Uma dessas alterações, muito frequente, é o excesso de triglicéridos (também podem ser chamados de triglicerídeos), ou trigliceridemia (normalmente definida para valores de triglicéridos superiores a 150 mg/dL). Esta situação é particularmente comum em países mais desenvolvidos, estando associada a vários riscos para a saúde, nomeadamente um aumento do risco de aparecimento de doenças cardiovasculares, diabetes, problemas hepáticos, entre outros. Apesar de, nalguns casos, o excesso de triglicéridos ser essencialmente causado pelas características da pessoa, ou seja, pela sua componente genética, a maioria das vezes essa situação surge como consequência de um estilo de vida pouco (ou mesmo nada!) saudável. Obviamente, nesse estilo de vida pouco saudável, as más escolhas alimentares serão um dos principais fatores. Uma alimentação mais cuidada, uma perda de peso (se o paciente tiver excesso de peso) e um aumento da atividade física são elementos indispensáveis para uma normalização dos níveis de triglicéridos. Claro que também existe medicação que contribui para isso mas, na minha opinião, só deverá ser utilizada quando as mudanças no estilo de vida são insuficientes para, só por si, diminuírem os valores abaixo de 150 mg/dL.
Do ponto de vista alimentar, uma pessoa com excesso de triglicéridos na corrente sanguínea deve evitar, essencialmente, um excesso de hidratos de carbono refinados e de açúcares simples. Ou seja, alimentos feitos à base de farinha branca, e alimentos com açúcares adicionados, por exemplo. Outra preocupação que deve ser tida em conta prende-se com os tipos de gordura que devem ser ingeridos, pois não se esqueçam que a gordura não é toda igual! A ingestão de ácidos gordos saturados (principalmente os de cadeia longa) deve ser limitada, e deve ser mais valorizada a ingestão de ácidos gordos monoinsaturados. Portanto, a gordura animal deve ser substituída por gordura vegetal como o azeite, por exemplo.
Num estudo publicado recentemente, foi avaliado o impacto da substituição de açúcares refinados e simples por proteína de ovo e ácidos gordos insaturados, em indivíduos com hipertrigliceridemia. A substituição efetuada foi uma substituição isocalórica de 16%, ou seja, o total de calorias ingerido manteve-se, só mudaram as fontes de 16% dessas calorias. Foi observado que a substituição efetuada aumentou a capacidade de produção de insulina por parte do pâncreas, a sensibilidade à insulina (ou seja, diminuiu o risco de diabetes) e diminuiu os valores de triglicéridos e colesterol na corrente sanguínea, quer em homens quer em mulheres. Portanto, independentemente de haver diminuição de peso ou aumento da atividade física, a alimentação, e mais concretamente, o contributo energético dos diferentes macronutrimentos, parece ser um importante modulador dos níveis de triglicéridos no sangue.
Concluindo, este é mais um estudo que aponta para potenciais consequências negativas associadas a um consumo excessivo de hidratos de carbono simples e refinados. Quem me conhece sabe que eu não sou fundamentalista em relação a eles, e não defendo que não os devemos ingerir, mas a ingestão excessiva destes hidratos de carbono é de facto um problema que se tem vindo a intensificar nos últimos anos e para os quais todos devemos estar alerta. Mais do que eliminar esses componentes da nossa alimentação, nós devemos ser capazes de procurar alternativas mais saudáveis para diminuir a sua ingestão, e adequá-la às nossas características e ao nosso estado de saúde.