O envelhecimento é algo que me fascina, pelos melhores e pelos piores motivos. Envelhecer significa crescer internamente, ser-se melhor, encarar as situações do dia-a-dia com mais sabedoria e com mais serenidade, relativizar os problemas e perceber que a vida é a maior dádiva que todos recebemos, e por isso deve ser vivida de forma intensa. Mas ao mesmo tempo significa ficarmos mais perto do fim, perdermos gradualmente determinadas capacidades que tínhamos quando éramos mais novos, físicas e intelectuais. E isto é, no mínimo, assustador. Por isso é que acredito que apesar do envelhecimento ser uma inevitabilidade, a forma e a velocidade com que se envelhece podem ser, em parte, alteradas pelos nossos hábitos e pelas nossas decisões diárias.
Uma das consequências mais cruéis do envelhecimento é o declínio cognitivo que, em última instância, pode levar à demência. Além do impacto económico que essa situação acarreta, é a dimensão humana que mais me incomoda. Atualmente não há forma de tratar a demência, pelo que tudo o que puder ser feito no sentido de atrasar/prevenir o seu aparecimento deve ser valorizado! E não tenho grandes dúvidas que há muito a fazer a este nível…
Apesar de o envelhecimento ser algo inevitável, é fundamental perceber como é que se pode prevenir ou atrasar determinadas consequências do mesmo.
Recentemente foi publicado um artigo na revista científica Journal of Nutrition, no qual se procurou perceber qual o impacto do consumo de frutas e legumes durante a idade adulta no declínio cognitivo. Sem grandes surpresas, verificou-se que os adultos com índices de consumo de frutas e legumes mais elevados apresentaram uma melhor performance cognitiva no decorrer do envelhecimento.
Estes resultados não me parecem de todo surpreendentes, mas revelam algo muito simples, mas muito desvalorizado: envelhecer é inevitável, mas a forma como envelhecemos depende em grande parte da forma como fomos vivendo a nossa vida. A alimentação é uma das variáveis que seguramente terá um impacto relevante no processo de envelhecimento, e por isso é algo que deve ser continuamente valorizado. No caso concreto do envelhecimento cerebral, acredita-se que o consumo de frutas e legumes possa ser particularmente benéfico por causa da ingestão de fibra (mais informações sobre a fibra alimentar neste post), com consequentes efeitos ao nível da microbiota intestinal (mais informações sobre a microbiota intestinal neste post). Além disso, também o aumento no consumo de antioxidantes (mais informações sobre os antioxidantes neste post) pode contribuir para os efeitos observados. Portanto, tal como eu digo muitas vezes, é no presente que se escreve o futuro, e cada vez que nos alimentamos temos a oportunidade de escrever um pouco do nosso futuro. E é exatamente assim que devemos encarar a nossa alimentação. Sem fundamentalismos mas com a consciência de que é algo muito importante para o que somos hoje, mas também para o que iremos ser amanhã…
Um consumo regular de frutas e legumes durante a idade adulta contribui para uma melhor capacidade cognitiva durante a velhice.
Referência do artigo: J Nutr 2019;149:1424–1433