Enquanto nutricionista, uma das coisas que mais me desafia é tentar ter uma visão o mais abrangente possível da alimentação. Se por um lado me parece fundamental ter uma perspetiva mais quantitativa, não só em relação aos próprios alimentos, mas também aos diferentes nutrimentos que eles nos fornecem, também não tenho dúvidas que a alimentação é muito mais do que isso. Há a componente emocional, pois a alimentação pode dar conforto e felicidade… A componente ecológica também me parece muito relevante, pois tem um impacto enorme no futuro do nosso planeta. E há outra dimensão pela qual me interesso particularmente, que está relacionada com o que os alimentos nos podem dar, além dos nutrimentos, ou seja, a possível existência de contaminantes na comida.
A contaminação alimentar é um tema bem mais complexo do que parece, pois está relacionada não apenas com o manuseamento, transporte, armazenamento e confeção dos alimentos, mas também com a sua própria produção. É verdade, uma grande parte dos contaminantes alimentares derivam de poluição ambiental. Quem é que nunca ouviu falar em comida contaminada com metais pesados, dioxinas, ou pesticidas? Ou seja, a contaminação alimentar é algo que engloba toda a cadeia de produção, distribuição e consumo, e à qual devemos estar particularmente atentos, pois a exposição aos diferentes contaminantes pode causar efeitos mais imediatos, ou então levar a alterações progressivas, com consequências que por vezes se tornam permanentes. Com este post não pretendo dar uma visão alarmista do assunto, pois há entidades competentes que fazem análises à presença de possíveis contaminantes. No entanto, acredito que os riscos a que estamos expostos pode, por vezes, ir bem para lá daquilo que é analisado por essas entidades. E se a esta ideia juntarmos o facto de virtualmente tudo o que é ingerido poder estar contaminado (começando no leite materno, passando pelos alimentos e terminando na própria água), facilmente percebemos que se trata de um problema de dificílima resolução. Em última instância, a contaminação existente num alimento “saudável” pode torná-lo um verdadeiro perigo para a saúde pública…
Os contaminantes alimentares estão presentes em todo o tipo de alimentos, englobando toda a cadeia de produção, distribuição e consumo dos mesmos.
Um aspeto que me parece muito importante, quando se discute a questão dos contaminantes alimentares, é o facto de nenhuma substância ser 100% segura, nem nenhuma substância ser 100% tóxica. Na realidade, o que faz com que algo seja (ou não!) perigoso é a sua dose. Já Paracelso, um médico do século XVI, afirmava que é a “dose que faz o veneno”. Além disso, há contaminantes que são rapidamente eliminados do nosso corpo, enquanto outros se tendem a acumular. Obviamente que estando a falar sobre contaminantes, há um assunto que me parece particularmente importante, que passa pela diferença entre os alimentos convencionais e os alimentos orgânicos. Apesar de, teoricamente, os alimentos orgânicos estarem expostos a menos contaminação, o fator mais importante parece ser a presença de fontes de poluição nas proximidades. Dito de uma forma mais direta, se eu viver no centro de uma cidade, e quiser fazer uma plantação de morangos orgânicos na minha varanda, o mais certo é não conseguir tirar partido da “pureza” associada ao método de cultivo que eu escolhi. Somando todas estas informação, há uma regra que permite lidar melhor com os contaminantes, e que acaba por ser um dos grandes alicerces do conceito de alimentação saudável, que basicamente se resume à ideia de que se deve variar muito a nossa alimentação. Não apenas para diversificar os nutrimentos consumidos, mas também para minimizar riscos.
A melhor forma de minimizar os riscos associados à presença de contaminantes nos alimentos é variando o mais possível a alimentação.
3 Comments
Ricardo Faria
É uma conversa que dá pano para mangas. Vou comentar apenas sobre o que sei sobre a matéria prima com que trabalho, o Azeite. Se pergunta-se se alguma vez seria possível o azeite conter micro partículas de plástico, provavelmente diria que era impossível. Pois pode ser verdade. Sei de um produtor, que devido a um pedido para exportar o seu azeite para a Tailândia, lhe foi pedido análises químicas da presença de plástico no seu azeite biológico. Ele foi fazer as análises, com a certeza de que era impossível ter vestígios de plástico no azeite de produção biológica.
Para seu espanto o azeite continha vestígios de plástico. Ele ficou a matutar naquilo e concluiu que o azeite apenas tinha tido contacto com superfícies de plástico entre o transporte do lagar para a sua quinta, que tinha sido em um contentor de plástico com certificação alimentar. O azeite permaneceu cerca de 48h neste contentor até ser armazenado numa cuba de inox. No ano seguinte decidiu mudar este procedimento e fazer o transporte já em cuba de inox e felizmente o contaminante desapareceu. Eu imagino se testassem os garrafões de plástico de azeite a quantidade de plástico que teria, mas este tipo de análises ninguém faz, nem sequer são obrigatórias. Do cultivo até à mesa do consumidor muita coisa acontece e hoje em dia diria que é quase impossível não ter comida contaminada de alguma forma.
João Rodrigues
Obrigado pela mensagem. Concordo inteiramente consigo, a questão da contaminação é quase impossível de ser evitada a 100%.
Pedro Mota
“se eu viver no centro de uma cidade, e quiser fazer uma plantação de morangos orgânicos na minha varanda, o mais certo é não conseguir tirar partido da “pureza” associada ao método de cultivo que eu escolhi.”
what?
Tantos os pesticidas orgânicos como convencionais são tóxicos a partir de uma determinada dose. Alguns pesticidas orgânicos apresentam uma toxicidade superior aos pesticidas convencionais. Não é ser natural que torna o pesticida seguro.